A resposta de “Servo da Gleba” merece alguma reflexão. As questões ali referidas, designadamente quanto à situação profissional e social em que se encontram esse tipo de funcionários, deveria envergonhar o Estado, neste caso o MNE. O que é extraordinário é não existir da parte da hierarquia política rigorosamente nenhuma preocupação e mínima consideração por quem trabalha nessas condições e não tentar inverte-las, dignificando esses trabalhadores. Isto porque, como a experiência nos vem ensinando, nunca será a hierarquia da casa a preocupar-se com outros funcionários que não os diplomatas.
Nesta casa, quer funcionários do Quadro Técnico, quer do Quadro Administrativo, não passam de funcionários de segunda. O que é uma vergonha! A casa nunca se procurou dignificar aquele tipo de funcionários. A começar pelas condições nos seus locais de trabalho, “tudo ao monte e fé em Deus”, nas diversas salas onde exercem as suas funções. Em anos, e são já muitos, que levo desta casa, não me recordo de ter visto, ou ouvido falar, alguma vez, de um Ministro que se tivesse dignado visitar todos os Serviços deste seu Ministério, falar e ouvir os seus funcionários, verificar em que condições trabalham, etc. E isto aplica-se a toda a categoria de funcionários, dos diversos Quadros (diplomático incluído). E mesmo por parte da hierarquia da casa nunca igualmente aconteceu. Nesse aspeto, até sentiria uma certa analogia, ou proximidade com o “servo da gleba”, ainda que as suas e dos seus colegas condições de trabalho, sociais e profissionais, como refiro, sejam bem piores e deveriam ser objeto de outro tipo de atenção por parte da hierarquia política, com vista à sua melhoria. Mas o Estado está-se completamente nas tintas para os seus funcionários. Sempre esteve, quer ao tempo da autocracia salazarista, quer na chamada democracia. As classes profissionais especiais, como os magistrados, militares, diplomatas, professores universitários, etc., terão apesar de tudo outro tipo de condições de trabalho e algumas, mas cada vez menos, perspetivas promocionais. Já o Quadro Técnico e Administrativo, o grosso da Função Pública, são tratados com o mínimo de consideração e com total indiferença. E com este governo, o que estava mal, piorou.
A terminar, gostaria de deixar claro que não me assiste qualquer preconceito, quer profissional, quer social, muito pelo contrário, contra os funcionários como o do “servo da gleba”. Estou até solidário com a situação periclitante que do ponto de vista profissional vivem, ou trabalham. Tudo isto é lamentável. Mas é o Estado que temos. Aliás, que sempre tivemos, temos e que continuaremos a ter, não haja - nenhuma! - ilusão.
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
13 abril 2010
NOTADORES @ “Tudo ao monte e fé em Deus”
@ Do Do ministro plenipotenciário Mateo:
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