03 dezembro 2003

Namíbia: «E se a Teresa sabe?»

Chegou a NV mais um papel (uma «folha 2») com parte da transcrição parcial de uma escuta telefónica, presume-se, de conversa havida hoje entre Alguém das Necessidades e Quem não se sabe onde.

Transcrição na íntegra:

Folha 2/5
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daquela semana juntos no Cairo, pá, foi fantástico. E aquele rapazinho vai contigo para o novo posto?
(Alguém) - Difícil, pá, difícil. Não sei se convencerei a chefa em fazê-lo meu vice-cônsul... Bem quero isso, mas lá é difícil. Claro, vai comigo.
(Quem) - Vê lá no que te metes, tens que agir com cuidado que a Teresa não se deixa envolver com falas mansinhas. Porque é que o teu companheiro não vai dar umas aulas lá pelo leitorado?
(A) - Mas que aulas pá?
(Q) - Sei lá, aulas de Cultura Portuguesa no Mundo, agora na moda, ou qualquer outra coisa fácil, sei lá, sobre...
(A) - ... pá, sabes que ele não tem habilitações. Como vice-cônsul é que seria uma ginja. Olha sabes que aquilo na Namíbia está a dar bronca?
(Q) - Mas o Montenebro está já em Joanesburgo a caminho de Lisboa, muito calmo, pelo que me disseram.
(A) - Calmo? Então não sabes que mudaram os arquivos da embaixada e da secção consular para a residência que não tem qualquer segurança?
(Q) - Isso não é grave, pá.
(A) - Não é grave? Sabes que deixaram os servidores de passaportes e de vistos ligados nas antigas instalações?
(Q) - Mas está lá a Lourdes de guarda.
(A) - Nada disso, pá, as instalações estão vazias e a Lourdes foi para a residência, para junto dos arquivos. Já viste o que pode acontecer? Mais uma batelada de passaportes e vistos falsos que podem aparecer.
(Q) - E a Cristina, pá, não serve para nada?
(A) - Sabes que a Cristina Moniz já partiu para Dublin e já nada tem a ver com isso.
(Q) - Estás a exagerar, pá, sabes que o cônsul-geral de Joanesburgo não anda a dormir e como tutela o novo escritório consular de Windhoek, sabe bem o risco dos passaportes e vistos...
(A) - ... sim, pá, ele pediu autorização aqui para ir a Windhoek no final de Novembro e não pôs lá os coutos! Eu bem te dizia que esse cônsul não é grande espingarda.
(Q) – Se o homem não foi lá, se calhar é porque não lhe deram resposta. Tu sabes muito bem que um gajo não se mete num avião sem as coisas a pratos limpos das Necessidades. E o novo cônsul honorário não faz nada?
(A) – Estás a leste, pá. Qual cônsul honorário nem qual carapuça, o homem primeiro disse que sim e depois parece que diz não. Sabes bem, pá, que essa história do cõnsul honorário na Namíbia não compensa.
(Q) – Explica-me essa, pá. Estão o gajo fica com imunidades, carro com matrícula consular, subsídios do FRI e dizes-me que não compensa?
(A) – Está calado, pá. Sabes que a Namíbia ainda não dá mão-de-obra clandestina para aí, sabes bem a que me refiro.
(Q) – Isto é uma chatice para o Cesário, se não cônsul, se o tipo de Joanesburgo não foi lá e os servidores de passaportes e vistos ligados em instalações ao abandono...
(A) – Uma grande chatice, pá. E se a Teresa sabe?
(Q) – Chatice ainda maior e hoje já não pode ocultar nada como nos bons velhos tempos. Recordas-te das garrafas do Protocolo?
(A) – (gargalhadas) Oh! Se me recordo! Ainda tenho umas quantas! (gargalhadas)
(Q) – Pá, isto não dá vontade nenhuma de rir. Se a ministra sabe é uma grande chatice. Mas tu que sabes tudo, diz-me lá uma coisa: o Júlio Vilela sempre conseguiu que aquele funcionária excelente, creio que se chama Isabel fosse para Nairobi? Não é Isabel?
(A) – Outra bronca, pá. A Isabel queria ir para Maputo, negaram. Pediu depois o Zimbabwe, outra nega e foi nomeada a contra-vontade para Nairobi.
(Q) – Então o Vilela sempre conseguiu!
(A) – Não sei se conseguiu, pá, não se pode obrigar as pessoas fora dos limites.
(Q) – E aquela outra, pá, Marília, não é Marília?
(A) – Sim, a Marília. Vai para Tunis.
(Q) – Pá, isto até parece transferências de jogadores da bola: da Namíbia para a Tunísia, para Nairobi, para Dublin...
(A) – Tá calado pá, não brinques. Aquela dos arquivos ficarem sem segurança, dos servidores de passaportes e vistos abandonados, de não haver honorário e do tipo de Joanesburgo não ter dado uma saltada, pá, é demais. Pá, para a ministra não saber nada disto, já sugeri falar-se com o
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(fim da página 2)

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