Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
08 outubro 2003
Teresa Gouveia, MNE
A «diplomacia de Primeiro-Ministro» conta a partir de agora com Teresa Gouveia, na pasta dos Negócios Estrangeiros. A solução até poderia ter sido Leonor Beleza, não fosse o Ministro da Defesa quem e não tivesse feito o que fez. Ao escolher Teresa Gouveia fez bem porque tomou decisão coerente. Por isto:
Durão Barroso precisa de ter no Cadeirão das Necessidades uma pessoa com perfil de «apaziguadora». Teresa Gouveia tem esse perfil, ganho quando foi secretária de Estado da Cultura – apaziguou cobras e lagartos.
Além disso, Durão Barroso precisa de um MNE que seja em larga medida ou quase apenas um «representante do Estado» e não já ou tanto como outrora um «negociador do Estado». Durão Barroso não tem conveniência em ter um MNE forte e que se imponha com argumentos autónomos e de responsabilidade própria, mas interessa-lhe um MNE doce e que saiba transmitir os argumentos. Foi já assim a vontade de Guterres (Gama fez uma ginástica constante para não entrar em choque com o PM) e não se esperaria modelo diferente com Durão Barroso, sendo este mais versado e vocacionado que Guterres para as relações e negociações internacionais. O contacto mais recente de Teresa Gouveia com os temas internacionais esgota-se com a sus participação no «grupo de refelxão»da Conferência Ibero-Americana, liderada por Henrique Cardoso, o que é pouco para um MNE forte, o que não se lhe exige.
Não se entende como por aí se anda a dizer um MNE deve estar altamente preparado para os dossiers da CIG… Mas quem é que decide os pesos e contrapesos da negociação europeia, quem traça a linha, quem é que diz «o que o País quer e não quer»? O decisor não é, não tem sido o MNE; tem sido e é o PM, porque, desde Guterres, temos uma «diplomacia de chanceler». E é esta alteração subreptícia que desejaríamos ver escrutinada, discutida e avaliada.
Ora se Durão Barroso resolveu com coerência o problema do Cadeirão das Necessidades, resta agora saber como vai resolver os lugares das três Secretarias de Estado. Com um MNE forte e para embate, o governo pode falhar nas secretaria de Estado que ninguém nota ou nota tarde demais (foi o que aconteceu com Martins da Cruz, cujos SENEC e SECP foram politicamente dois desastres). Com uma MNE apaziguadora, Durão Barroso terá de contar com secretários de Estado competentes, formiguinhas trabalhadoras, sem ambições de curto prazo mas diligentes, eficazes e sobretudo leais à diplomacia do PM. É possível que no paraíso haja secretários de Estado deste género, mas Gama foi desencantar uma dessas figuras celestes como foi Luís Amado.
È claro que Durão Barroso, como todos os PM, têm uma côrte enorme. Os candidatos são muitos mas numa «diplomacia de primeiro-ministro» os critérios para secretários de Estado são muito especiais. Terá obviamente conveniência em reconduzir Costa Neves nos Assuntos Europeus (que domina o tema), será um corolário lógico e até justificável que destaque o seu assessor diplomático Nuno Brito para a Secretaria de Estados dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Resta a das Comunidades, para onde pode sobrar algum preço da coligação, não sendo surpresa como o PP gostaria de fazer exercícios de populismo junto da emigração portuguesa. Não sei se Durão Barroso quererá correr este risco.
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