04 novembro 2003

Sampaio: de Senhor da Cana Verde a efémero super MNE

Enfim, lá teve o Presidente da República que dizer e em Madrid, o que o Primeiro Ministro Durão Barroso não disse e possivelmente não dirá, dada a estranha desaparição da MNE Teresa Gouveia (esteve ausente de Angola, nos 5-5 fez passar ao largo a proposta I Cimeira de Chefes de Estado/Governo do grupo e, a dias/horas da 19.ª Cimeira Portugal-Espanha, nem a MNE, nem as Necessidades dão sinal de que a Espanha está na agenda diplomática).

  • Sampaio não poderia ter escolhido melhor oportunidade para fazer uma incursão num campo de que tanto gosta mas em que está constitucionalmente limitado: as relações externas. Nesta matéria, em boa verdade, pouco mais é do que aquilo com que Teixeira Gomes se descreveu a si próprio na função presidencial: um Nosso Senhor da Cana Verde...

  • Pois Sampaio deve ter partido a cana. E vai daí, em plena capital espanhola, diz algumas verdades que o cidadão comum há muito sabe:

    1 – que «o desnível (entre Portugal-Espanha) quanto às empresas instaladas é francamente penalizador para Portugal»

    2 – que isso é uma «anomalia pouco saudável»

    3 – que os empresários portugueses «repetidamente» lhe dão conta das dificuldades em entrar no mercado espanhol

    4 – que «ao contrário do que acontece em Portugal, onde empresas espanholas têm acedido a grandes concursos públicos para realização de grandes infra-estruturas, nenhum contrato significativo tenha sido obtido por empresas portuguesas (em Espanha) em igual sector» pelo que «seria bom que, pelo menos uma vez, ganhássemos um concurso público em Espanha»

    5 – que tem idênticas indicações de dificuldades de empresas portuguesas no sector da distribuição de petróleo

    6 – que nos concursos de privatização a decorrer em Espanha, as empresas portuguesas «são sistematicamente preteridas»

  • Mas como é Senhor da Cana Verde e apesar deste efémero ensaio como super-MNE, Sampaio também por lá repetiu a trivialidade diplomática do costume: que «os Governos dos dois países estão empenhados em afastar eventuais tensões»... E trata-se de uma trivialidade porque, sendo a próxima cimeira numerada com o 19, já se ouviu isso antes e depois de cada uma das 18 anteriores. Ainda bem que mais não disse porque acabaria por condecorar com a Ordem do Infante D. Henrique o empenho espanhol.


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