Nada justifica o total apagamento a que a Ministra dos Negócios Estrangeiros se votou. A política externa portuguesa perdeu a voz natural – aquela voz que todos os Estados prezam usar todos os dias.
Terminado, dentro do razoável, o período de graça compreensivelmente concedido a Teresa Gouveia após a saída (polémica e inesperada) de Martins da Cruz, a «ausência» da ministra da cena diplomática e o seu manifesto afastamento da «agenda» da política externa portuguesa não só incomoda o cidadão atento e o português comum, como suscita fundamentadas dúvidas.
Até há pouco, era compreensível que a ministra estivesse profundamente absorvida nas tarefas de serenar a casa ou até de a arrumar, entre constantes idas e vindas, ao que se diz, a Itália. Que serenou, serenou um pouco. E mais nada.
A verdade é que Teresa Gouveia passou com tolerada suavidade pelo Parlamento, a propósito do Orçamento de Estado; participou com dubitativa discrição na reunião dos 5+5 e tão discretas como dubitativas foram as suas prestações em menos de meia-dúzia de reuniões europeias; não foi a Angola com Durão Barroso, e na Figueira da Foz (Cimeira Portugal-Espanha) entrou muda e saiu calada.
Desde que é Ministra dos Negócios Estrangeiros não se lhe conhece uma declaração de fundo, um pronunciamento orientador, uma exposição clara e inequívoca sobre o que pensa fazer da política externa e sobre o rumo que pensa imprimir à acção diplomática, quer no quadro europeu, quer nos compromissos que, mal ou bem, foram tomados nos temas dominantes da política internacional, como no caso do Iraque.
Admite-se que o silenciamento de Teresa Gouveia possa em grande parte ser explicado pelo facto do Primeiro-Ministro Durão Barroso ter chamado a si a condução dos grandes temas da actividade externa do Estado, sobretudo aqueles em que é o protagonista directo. Mas essa explicação não é suficiente. Se é exigível ao responsável das Necessidades que evite converter-se em todos os momentos num astro de televisão, também não se lhe perdoa que seja apenas uma linha tangente daquilo que continua a ser o mais sagrado para a independência e soberania de um País.
Alguma coisa se passa.
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