27 janeiro 2004

Diplomacia Papal e a Outra Praticamente Igual

João Paulo II continua activo: hoje recebeu o vice-presidente dos EUA, Richard Cheney; recebeu o director do Programa Alimentar Mundial, James T. Morris; recebeu o arcebispo polaco Zygmunt Kaminski que lá foi acompanhado pelo reitor e uma delegação da Universidade de Szczecin (a pretexto desta escola superior ter acolhido curricularmente o ensino da Teologia); e ainda recebeu o Embaixador da Argentina junto da Santa Sé, Vicente Espeche Gil. Além disso ainda nomeou hoje o monsenhor Renzo Fratini, para Núncio Apostólico na Nigéria (Fratini era até agora simultâneamente Núncio para a Indonésia e Timor-Leste, simultâneo que foi uma pedra no sapato de Ana Gomes) e também nomeou o monsenhor Vito Rallo para Observador Permanente junto to Conselho da Europa (Estrasburgo). Não se pode dizer que o Papa não tenha tido um dia activo.

Mas de tudo isto e a propósito da audiência com Cheney, sobressai a característica «diplomacia papal» ou «diplomacia do Vaticano», como se queira.

NV não pretendem antecipar-se ao telegrama que, certamente, o meu amigo Embaixador Ribeiro de Menezes fará chegar em minutos ao célebre computador portátil da secretária de Estado Manuela Franco, mas não resistem a disponibilizar para todos os notadores (a tal designação tão querida do meu amigo ministro plenipotenciário Charles Calixto) os nacos da sabedoria secular que, pela parte portuguesa, o nosso Afonso Henriques logo cedo teve que enfrentar.

Os nacos não vão em grego, em atenção pelos raros dos nossos leitores que nada entendem dessa língua, mas seguem no francês fresco que, oficialmente, acaba de chegar pela Mala Diplomática de NV, felizmente ainda não privatizada por recomendação sugerida informalmente pelo SIEDM.

Ao vice-presidente norte-americano, João Paulo II disse:

«J'ai plaisir à vous recevoir au Vatican, vous et votre famille, et vous prie de remercier de ses mes cordiales salutations le Président Bush"

«Depuis toujours le peuple américain vénère les valeurs fondamentales que sont la liberté, la justice et l'égalité.

«Dans un monde marqué par la guerre, l'injustice et la division, l'humanité a besoin de développer ces valeurs dans sa recherche d'unité, de paix et de resepct de la dignité de chacun.

«Je vous invite donc, ainsi que tous vos compatriotes, à oeuvrer aux Etats-Unis et de par le monde pour l'accroissement de la coopération et de la solidarité internationales, au service de la paix qui est l'aspiration la plus profonde des femmes et des hommes. Sur vous et sur la nation américaine toute entière j'invoque l'abondance des bénédictions de Dieu Tout-Puissant».


E o Papa ficou por aqui.

Mas como Cheney, antes da audiência com João Paulo II, tivera um encontro formal com o Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Angelo Sodano, e com o Secretário da Santa Sé para as Reções com os Estados, monsenhor Giovanni Lajolo, por certo mais alguma coisa se passou muito além do que as palavras papais votivamente deixam transparecer.

Oficialmente, quanto a essa «mais alguma coisa» o Vaticano apenas deixou transparecer o seguinte e apenas o seguinte:

«Ces entretiens (Sodano/Lajolo com Cheney) ont permis un échange de points de vue sur la situation internationale, et notamment en ce qui concerne le processus de paix en Terre Sainte et l'évolution en Irak.

«On a également accordé une importance particulière aux questions morales et religieuses qui agitent les Etats-Unis, notamment en matière de défense et de promotion de la vie, de la famille, de la solidarité et de la liberté religieuse.»


Já o nosso Afonso Henriques se queixava da diplomacia papal por, nas bulas de resposta às cartas, o Pontífice falar apenas do acessório e esquecer o essencial... E nem se compeende, hoje, por que tanto se queixou ele porque afinal a diplomacia portuguesa aprendeu com isso e é isso.

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