25 fevereiro 2004

Esta Diplomacia que anda sempre com ar de ofendida

Quando um Estado tem Diplomacia a sério e tem Política Externa a sério, quem faz isso e quem escrutina isso, reciprocamente, consideram-se ambos um «mal necessário». E ainda bem! Mal de uma Diplomacia que, sem que caia na praça pública, fuja permanentemente da inspecção cívica, e mal de uma Política Externa que, sem prejuízo do sigilo da sua formulação, não se submeta à avaliação pública.

Todavia este Portugal de 2004 parece estar fora desse quadro - revela-se apenas o que é circunstancialmente conveniente, não tanto para a Diplomacia e para a Política Externa, mas para o poder político, ou melhor, para os titulares desse poder que assim agem como se aquelas coisas fossem coisas de sua propriedade exclusiva e não do Estado. É assim que quando os media e sobretudo os novos meios de participação como os que a internet proporciona, não acolhem esses objectivos pessoais - mas espúrios numa Democracia, tanto a crítica da actividade externa do Estado como o escrutínio da definição das políticas para o exterior ou no exterior, como ainda a avaliação de condutas e procedimentos dos agentes politico-diplomáticos, são reduzidas a uma espécie de excepções sediciosas - como se avaliar os agentes do Estado a bem do Estado fosse estar (outra vez...) contra o Estado!

Tem isto muito a ver com o nosso (nosso, no sentido de português...) Palácio das Necessidades onde apenas o perguntar até parece que ofende.

Que política para a África? É uma ofensa.
Que política para a Europa? Outra ofensa.
E que política é esta com Espanha? Terceira ofensa.
Como é que Portugal está a votar e em que vota ou porque vota desta ou daquela maneira nas Nações Unidas? Ofensa.
Que política para as Comunidades Portuguesas? Ofensa absoluta.
O que é que a inspecção diplomática e consular anda a fazer, fez, deixou andar, arquivou e delongou? Que ofensa!
Diplomacia Económica, assim? Diplomacia Cultural, onde? Diplomacia Consular, palavra de honra? Diplomacia Pública, assim? Diplomacia da Cooperação ou ordenações manuelinas? Para quando uma Diplomacia dos Direitos Humanos? E a Diplomacia do Mar, há mesmo ou será mais uma faceta da Diplomacia de Altos Cargos? Tudo ofensas.

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