A Europa do Sul tem procurado dar alguma consistência, neste últimos anos, a uma imagem ou, talvez melhor no sentido histriónico do termo, a uma máscara política própria no contraste pouco disfarçado face à Europa Central e à Europa do Norte. Primeiramente, foi a atenção para o Leste por parte da Alemanha que motivou esse acordar do flanco sul, e depois, foi o somatório das consequências do alargamento inevitável da União Europeia, cruzando-se tudo com as questões da segurança na área mediterrânica o que, por um lado, levou à organização do diálogo com os vizinhos do Magreb, e, por outro lado discriminou a relativa simplicidade do Mediterrâneo Ocidental da teia complexa dos problemas que afectam o Mediterrâneo Oriental. O Mediterrâneo tem sido, no entanto, o problema comum de duas civilizações diferentes – diferentes nos hábitos, diferentes nas crenças e diferentes dos sistemas e pertenças ou partilhas, como se queira. E apesar do Mediterrâneo ser o problema comum, dois Estados não mediterrânicos – Portugal e a Mauritânia – foram desde início associados ao processo. Portugal, por vontade e iniciativa própria no receio de ficar ainda mais isolado que está no extremo da Europa; a Mauritânia, por conveniência tácita de Marrocos e da Argélia. O avanço das negociações no ocidente mediterrânico – sempre com a questão da segurança na primeira pasta - sofreram um compasso de espera em função de sinais da conversão da Líbia, o que aconteceu e se reconheceu abertamente após a assinatura de Tripoli ter sido reconhecida pelo cartório notarial da política externa de Washington. Nesse compasso de espera, as questões da segurança só deixaram, no entanto, a zona das abstracções e dos exercícios em cenários - que por si só, essa zona, faz metade de um conjunto de quaisquer ministros - quando pontualmente e deixando a imigração para o domínio dos pormenores, o terrorismo proveniente do fundamentalismo islâmico fez a sua aparição. Assim aconteceu na Argélia e também em Marrocos. Todos os restantes terrorismos foram sempre tratados como questões internas dos respectivos Estados.
O 11 de Março de Madrid acabou com essa fase e a presença dos primeiros-ministros de Itália, França e Portugal na capital espanhola, muito para além do acto de solidariedade, significa o acordar do flanco sul da Europa para alguma coisa com que não se contava tão cedo. A questão da insegurança dos Estados europeus do Mediterrâneo Ocidental deixou pois o cenário do previsível e fez caducar a validade das abstracções de chancelaria.
E Portugal, no meio disto? Pode tomar uma inciativa. Podia já ter tomado uma iniciativa.
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