O prometido é devido, ainda a propósito de PortugalClub: o Parlamento, com mais precisão - o Deputado Eduardo Neves Moreira
Se há área em que, em matéria de diplomacia parlamentar, os deputados podem e devem brilhar é a área das Comunidades Portuguesas. Naturalmente que os deputados talhados para esse desiderato são, à partida, os deputados eleitos pelos círculos de emigrantes – primeiro, porque foram estes que os entronizaram pelo voto, segundo porque a estes é que têm que prestar contas em função das promessas que fizeram, terceiro porque estão em S. Bento para escrutinarem as políticas para as Comunidades Portuguesas, e, muito em especial, a actividade externa do Estado virada para esse grande e disperso mundo de diáspora nem sempre bem entendido mas quase sempre bem aproveitado até ao tutano conforme as conveniências, as conveniências partidárias – faça-se o recorte.
Portanto, um deputado pode e deve escrutinar não os emigrantes ou as Comunidades, mas sim os decisores das políticas que se lhes dirigem ou afectam e, além disso, os agentes não só de tais políticas mas também da actividade administrativa externa do Estado. Na época que corre, o deputado que queira seguir por esse caminho de obrigação cívica e não apenas de dever político, tem muito por onde escolher.
Estamos em crer que a recente viagem de Manuela Aguiar à África Austral seguiu de perto essa intenção de escrutínio, assim como a apreciável quantidade de requerimentos ou pedidos de esclarecimentos de outros deputados, muito embora – uns mais, outros menos – se movam por intenções ou objectivos que se enquadram nas mutantes circunstâncias partidárias da política doméstica.
Ora, esse laboratório móvel que é o PortugalClub revela-nos efectivamente um deputado muito activo, insistente e que invoca sempre o comboio das funções ou do mandato a seguir ao nome. É o deputado Eduardo Neves Moreira - «Deputado da Emigração na Assembleia da República», assim mesmo e é verdade.
Mas o que, em substância, escreve o Deputado da Emigração? Escrutina o Governo, ou escrutina os Emigrantes? Escrutina os decisores da diplomacia consular, ou escrutina os queixosos dessa malha que os contribuintes pagam para que exista e sirva? Escrutina os agentes do Estado, ou escrutina os eleitores que, afinal, elegem deputados para escrutinar quem politicamente age?
Pois o Deputado Eduardo Neves Moreira não perde uma nesga de oportunidade para fazer exactamente o oposto que um «deputado da emigração» deve fazer. Senão vejamos - Há um homem que do Canadá envia belos textos para o PortugalClub? Pois então o Deputado elogia o homem, diz que aquilo é que, sim, é o exemplo para todos os emigrantes e, depois, pancada em quem livremente faça alguma crítica da maneira que entenda pois estes serão, em contraposição com o Homem de Letras do Canadá, as nódoas e as ovelhas desgarradas do rebanho das Comunidades. Há uma crítica contra alguma inciativa ou processo de inciativa de algum consulado? Lá vem o Deputado a enaltecer o objectivo mesmo que este nunca tenha estado em causa, para nesse pretexto zurzir na malévola crítica e para diagnosticar o diz ser o bota-abaixo. E surge um emigrante que à sua maneira critica pontualmente um ponto sem pontos? Lá vem o deputado a lamentar a forma esquecendo o facto, qudno o facto é o que mais lhe deveria importar. Temos observado isto, esta cultura de escrutinador do lado errado, ao longo de meses!
Não se interprete estas palavras como se elas sugerissem, mesmo ao de leve, que Eduardo Neves Moreira, Deputado da Emigração na Assembleia da República (presume-se que não há deputados da emigração em mais nenhum lado) não tenha direito a escrever para o PortugalClub por entre emigrantes, ou a escrever para onde entenda – para o Jornal da Comarca do Feijó, para o grande diário português que é El Pais, até mesmo para a revista nortenha de maior difusão que a Vogue. Pode escrever, aliás, até apreciamos que escreva para todos esses sítios e, por maioria de razão, para o PortugalClub
Só que, devendo estar esses lugares obviamente estar abertos à pena de Eduardo Neves Moreira, o primeiro lugar do Deputado da Emigração é no Parlamento, é aqui ele deve em nome de muitos outros e a representar os demais, pôr o ombro na diplomacia parlamentar, escrutinar decisores e agentes. É isto que não se tem visto de forma cabal e transparente ou sem os jogos de caleidoscópio.
Os Deputados têm a tribuna de S. Bento aonde os eleitores não podem subir. Um só emigrante que ousasse fazê-lo, ainda que pela justificação da inquietação incontida ou mesmo do desespero (e há muitas situações de desespero!) e de certeza o Presidente Mota Amaral mandaria evacuar a sala, despejar as galerias e suspenderia a sessão com o caso a acabar na polícia. E isto porquê? Porque essa tribuna pertence em exclusivo ao Deputado da Emigração e é aí que a sua legitimidade política deve escrutinar-se. Aí, sim, aí é que é o seu lugar, o seu primeiro lugar. Nos outros lugares, os segundos, os terceiros até à Vogue, como deputado, a escrita deveria começar por «Eu, como Deputado, escrutinei...», jamais assim «Eu, como Escrutinador dos Emigrantes, advirto-vos...)
Moral da história, usando o recurso final de Esopo: Eduardo Neves Moreira é Deputado da Emigração na Assembleia da República, coisa que é incompatível com as funções de Deputado do Secretário de Estado da Emigração seja o exercício feito em El País, na Comarca do Feijó ou na Vogue.
Como alguém disse a Manuela Aguiar, «a missão não foi extinta, está encerrada e poderá reabrir». Ora aqui está um caso para o Deputado escrutinar!
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