Já não é uma questão de política. O erro de Cesário é uma questão cultural. Questão dele, Cesário. Está agora na Austrália, a fazer o quê e para fazer o quê?
Ao que se sabe, visita instalações do consulado de carreira em Sydney e do consulado honorário em Melbourne, visita a Art Gallery de de New South Wales e visita o Museu de Arte Contemporânea visitando-o, segundo o noticioso oficial, «no âmbito da Bienal de Sydney» com cuja curadora, Isabel Carlos, «tem encontros», encontros que obviamente também se anunciaram com o embaixador de Portugal em Camberra. Visita a SBS (rádio/tv estatal multicultural), visita a Casa da Madeira, visita o Museu Português, visita o Clube Português de Sydney e depois mais «encontros» para compor o programa - com dirigentes associativos, professores, padres... tudo o que se perfilar na visita.
Prossegue assim Cesário a senda da generalidade dos seus antecessores na mesma pasta, não sendo por isso sequer uma excepção, pois sempre cada secretário de Estado primeiro da Emigração e depois das Comunidades Portuguesas se deslocou ao estrangeiro e ao terreno da emigração, não para resolver os problemas dos emigrantes, anunciar políticas adequadas e indagar a realidade, mas para uma afirmação pessoal cruzada com duvidosas proclamações doutrinárias, não raro passeando-se cada um deles como se fosse um Presidente da República em miniatura, exigindo honra pela miniatura, respeito pela mesma miniatura e obviamente sempre veneração e subserviência face à mesmíssima miniatura o que ~sempre se revelou como triste caricatura.
Ora Cesário não tem conseguido fugir a esta falsa cultura estatal de «mini-PR» que acaba por ser de facto contra o Estado, pois desarmada a festa circunstancial, os emigrantes continuam revoltados e, infelizmente na maior parte dos casos, com razões e com motivos que não abonam em nada a imagem do próprio Estado.
Ou seja: tal como muitos dos seus antecessores (de alguns nem vale a pena recordar-lhes as façanhas e peripécias próprias do domínio do anedotário) Cesário faz tudo menos articular a Diplomacia Consular a que deveria destinar toda a acuidade, e faz tudo menos a Diplomacia das Comunidades Portuguesas que continua a não existir ou que apenas existirá quando muito no patamar do voluntarismo primário que, por sua vez, é tudo menos política.
Cesário que fragilizou e em muito a gestão de Martins da Cruz, está a fragilizar e de forma irreversível a gestão de Teresa Gouveia. Nas Necessidades, um mau ministro pode atenuar o defeito que seja mais evidente com bons ou razoáveis secretários de Estado, mas num bom ou mesmo no melhor dos ministros qualquer virtude se transforma irreversivelmente num defeito se tiver maus, péssimos secretários de Estado.
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