10 julho 2004

Comentário.

Nos meios diplomáticos europeus, à medida que «as coisas» se vão sabendo, a estranheza sobe de tom.

Pouca gente acredita que um Primeiro-Ministro se demita para assumir a condição de proposto para a Presidência da Comissão sem prévia, clara e inequívoca concertação institucional (PR e AR), sem pré-conhecimento do Governo que com tal demissão logicamente cairia, e – mais grave – sem articulação de iniciativas tendentes a minimizar os custos de uma previsível crise política que a circunstancial decisão de Jorge Sampaio não resolveu – as sequelas vão aparecer com intensidade. Aqui é que bate o ponto.

Nos meios diplomáticos europeus, era convicção generalizada de que esses procedimentos tinham sido cumpridos. Foi um tremendo erro de conduta. José Manuel é excelente nas relações internacionais, é um bom, arguto e perspicaz negociador mas, nota-se-lhe de há muito: há «qualquer coisa» que falha no momento em que ele deveria ter total consciência de dar primazia à conduta. Se o tivesse feito na corrida para um dos postos de arbitragem da UE, não perderia o cargo pessoal na Comissão e ganharia o País, além de que ficariam razoavelmente afastadas as dúvidas de que os apoios que lhe são dirigidos ou expressos não o são por pudor, por excepção interesseira, por efémera consideração ou por inadvertência.

Carlos Albino.

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