Recapitulando.
António Martins da Cruz tomou posse como Ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas em Abril de 2002, pedindo a demissão do cargo em Outubro de 2003 na sequência do escândalo da cunha. A entrada de Martins da Cruz para o XV Governo foi desde logo entendida como uma parceria natural com Durão Barroso com quem alinhara em antigas peripécias quando um era assessor diplomático do PM Cavaco Silva, e o outro jovem secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros com o lugar do MNE João de Deus Pinheiro na mira e que haveria de conseguir. No remate da crise política do sai não sai das Necessidades, Martins da Cruz atribuiria surpreendentemente a Durão Barroso a responsabilidade pelo arrastamento da crise. Martins da Cruz deixou as Necessidades em polvorosa: a carreira dividida com diplomatas de primeira linha humilhados, secretários de Estado manifestamente incompetentes, direcções-gerais sem perfil ou com fraco perfil, o Instituto Camões afundado, ausência de diálogo com a organização sindical dos trabalhadores dos consulares e missões diplomáticas, e algumas coisas (graves) mais de que apenas com o tempo poderemos descrever. Em todo o caso foi um ano e meio de evidente euforia para alguns peritos em aproveitamento de circunstâncias e cuja coerência se confunde com o oportunismo.
Teresa Gouveia surgiu nas Necessidades em Outubro de 2003 como uma ilha de esperança rodeada de benefícios da dúvida por todos os lados. É verdade que serenou o ambiente da carreira mas foi adiando soluções cada vez mais urgentes na esfera administrativa; é também verdade que geriu com equilíbrio a sua aposta numa ampla movimentação diplomática chegando mesmo a impor-se em casos onde se reclamava ainda perseguição, mas cometeu o erro de não ter substituído, à sua entrada, o bloco de decisores do MNE, além de ter mantido o polémico secretário de Estado das Comunidades (José Cesário) responsável pelo fracasso da reestruturação consular e de ter chamado para secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros uma figura (Manuela Franco) que cedo se revelou sem desenvoltura ou mesmo sem liberdade de movimentos para ajudar a Ministra em dossiers cruciais como o do Médio Oriente, por exemplo. Ainda tentou salvar o barco da cultura com Simoneta Luz Afonso mas isso naturalmente que representa muito pouco na actividade externa do Estado. Teresa Gouveia, arrastada pelo intenso calendário de reuniões europeias cruzado com viagens e acolhimentos bilaterais, não teve colaboradores directos com capacidade de resposta política ou talvez mesmo com vontade política. E sai demarcando-se de Durão Barroso, tal como Martins da Cruz, por outros motivos e outra ordem de ideias, se tinha demarcado. Ministra por nove meses, Teresa Gouveia certamente que abandona as Necessidades mas a gora como uma ilha de dúvida sem os benefícios da esperança.
E agora, Diplomacia?
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