1 – Por princípio, NV não se alimentam do escândalo nem desse grande rosário dos acertos de contas entre alguns diplomatas em competição por postos, promoções e comissões. Em todas as chancelarias do mundo há coisas destas - a portuguesa não é a única que ostenta excepções sediciosas à diplomacia pura – mas não entramos nesse campo. O que não significa que não se tenha que alertar para ocorrências ou incidentes que, implicando desta ou daquela forma uma relação do Estado Português com outro ou outros Estados, arrastem matéria eventualmente susceptível de provocar escândalo. É o caso de Toronto, como foram outros casos no passado e noutras paragens - umas vezes a favor de diplomatas que surpreendemos literalmente triturados pela Injustiça (que também tem a sua organização própria), outras vezes escrutinando diplomatas ou mesmo outros funcionários do MNE sobre matérias de relevante interesse público.
2 – Estamos perfeitamente à vontade para dizer que nada nos move contra a pessoa do diplomata Artur Magalhães, antes pelo contrário, como ele próprio sabe e não pode desconhecer. E tanto assim que devemos esclarecer que evocados problemas nos postos anteriores (Versalhes e Bissau) que deram azo a autos de averiguações que se revelaram inconclusivos, não se revelaram «apenas inconclusivos» mas «tinham que se revelar inconclusivos» sobretudo no caso de Versalhes porque se se revelassem conclusivos, bastantes, muitos diplomatas teriam de passar pela mesma fieira. E esse até foi um caso daquela Injustiça de que o diplomata Artur Magalhães, por pouco, não foi vítima. Portanto, esse passado está limpo e explicado. Temos todo o processo na mão até à «conclusão final» e estamos em condições para garantir isso. A colocação em Toronto não foi pois um prémio, foi de alguma forma um acto de ressarcimento. Se o dissemos ao Ministro da ocasião, não podíamos deixar de o repetir, com razões e motivos mais justificados, aos Leitores de NV, diplomatas ou não.
3 – As primeiras informações sobre o caso de Toronto, não foi o PTvirtual a prestá-las numa breve do dia 23, nem NV na manhã do dia 24, naturalmente que sem o rigor de uma inspecção consular… Foi o próprio diplomata no dia 22 para os funcionários do posto consular, sobre um facto cujo desfecho se revelaria grave, ocorrido um mês antes - 21 Agosto. Decorreu, portanto, um mês – mais do que tempo para uma averiguação idónea que acautelasse os direitos do diplomata e a imagem do Estado.
Diga-se agora que pouco depois do dia 21 de Agosto, NV tiveram conhecimento do essencial do caso mas nada revelaram para não ferir a serenidade de uma justificável diligência oficial, tal como agora mesmo sabemos de outros casos e nada, nada diremos até ao momento que, com erro mínimo, julguemos oportuno revelar. Não somos nem queremos ser inspecção diplomática, muito menos consular. Essa actividade tem sede própria e pertence ao Estado através do MNE. Quando muito compete a NV que tem autoria assumida e não é coisa encapotada, anónima ou pseudónima, escrutinar a inspecção antes mesmo dos inspeccionados cujos direitos colocamos à frente de tudo.
4 – A comunicação do diplomata aos funcionários, no dia 22, provocou o rápido alastrar da matéria cujo ponto ou momento publicamente mais melindroso, para a imagem de Portugal, não seria a breve de PTvirtual nem o relato de NV com base em várias fontes (temos várias em Toronto e quem menos imaginam, descansem algumas consciências) mas sim, no mesmo dia 24, a comunicação formal do porta-voz da Ontário Provincial Police nos noticiários da OMNI News, a televisão multicultural canadiana, onde produziu a grave afirmação de ter havido agressão por parte do diplomata. Artur Magalhães diz que isso não é verdade, os que estavam com ele também dizem que não. Mas decorreu um mês até se chegar a esta lamentável e, repete-se, melindrosa situação. Um mês. Do que se estava à espera?
5 - Naturalmente que o prestígio de Portugal no Canadá, felizmente de lés a lés, não vai ficar afectado porque esse prestígio não assenta em cônsules mas nas Comunidades Portuguesas cujas qualidades temos visto serem reconhecidas pelas mais diversas personalidades e decisores canadianos, sabendo estes e todos nós que em todo o lado há nódoas e que Portugal não está imune às nódoas no seio das suas próprias comunidades. O que não quer dizer que Portugal, com esse capital de prestígio, não tenha que acautelar a sua imagem a todo o momento e essa imagem, independentemente do prestígio dos cidadãos emigrantes, acautela-se, à cabeça, com a máquina de embaixadores, cônsules e funcionários colocados nos serviços externos. Por isto nos batemos, vai para mais de 30 anos no Jornalismo Profissional e não é agora que deixaremos de o fazer nestes intervalos de complementar Jornalismo de Cidadania que não é apenas «jornalismo pessoal», como o meu amigo Mário Mesquita sugere que seja. É verdade que alguns episódios polémicos do passado têm sido escapatória ou mesmo aceitavelmente explicados no e para o Canadá. Em Portugal tais episódios também acabaram por não produzir efeitos ou por intervenção de cunha ou por mérito daquele consenso segundo o qual os direitos a informar e a ser informado serão faces de uma mesma malvadez…
6 – Sobre o caso de Toronto, NV aguardam uma explicação oficial e mais do que nós, por certo, a Comunidade Portuguesa aguarda. Pouco mais diremos sobre o caso, o que não impede que não arquivemos em Notas Formais as versões que nos fizerem chegar. A começar pela de Artur Magalhães e, se possível, em directo e não por terceiros uma vez que em Toronto, ensina a consola do passado, há terceiros que são mais consulistas que o cônsul.
Carlos Albino
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
26 setembro 2004
Toronto. Esclarecimento de Notas Verbais
Esclarecimento.
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