Briefing da Uma. Sobretudo o eurodeputado António Costa deveria saber que «a resposta é a desgraça da pergunta, pá», como Maurice Blanchot lhe poderia mandar traduzir para alemão ou para Catalão, tanto faz… deixando o francês para Capoulas, Jamila e Casaca.
1 – Centrais europeias de imagem há muitas, pá…
2 – Mal começaram
3 – Qualquer diplomata sabe que a ânsia é a doença infantil do político
1 – (Ontem, NV trucidaram uma jovem eurodeputada eleita suplente de uma comissão temporária… Não foi demais?) - «Não foi demais. Os eurodeputados, sobretudo os que nem tomam consciência de que foram sufragados pelo alheamento dos portugueses, têm que ter de uma vez por todas a noção do ridículo e do provincianismo que caracteriza grande parte da actividade autopromocial em que consomem preciosos mandatos, infelizmente muito mais disputados dentro das quotas partidárias do que pelo eleitorado resistente. Independentemente de fortes se não até irredutíveis clivagens políticas internas, os Estados da UE que não deixam em mãos alheias a defesa dos seus interesses, cultivam de há muito uma discreta diplomacia europarlamentar. Espanhóis, italianos e holandeses, então quando há interesses nacionais em causa, tocam a reunir. Os enfim nossos eurodeputados, cada um deles mal põe um pé em Bruxelas e outro em Estrasburgo, arquitecta logo uma central de imagem pessoal – cada um deles quer que se fale mais de si do que sobre aquilo que fazem de útil e com resultados palpáveis, seguros, firmes. Os assistentes, pagos pelo orçamento europeu, que têm ao seu serviço são usados quase exclusivamente para essa finalidade: promover a imagem. E como a promoção é provinciana, é de ver como essa imagem é repercutida nos jornais provincianos. É portanto um diplomacia europrovinciana, a diplomacia da generalidade dos eurodeputados portugueses.»
2 – (E os portugueses não tocam? Está a fugir à questão.) - «Na questão de Timor tocaram, porque era de bom tom tocar. Cremos até que foi um manifesto unanimismo apenas de bom-tom que levou, por exemplo, José Pacheco Pereira a dar algumas notas dissonantes – quem queira ver JPP dissonante até cáustico, basta envolvê-lo no unanimismo. Ele foge disso como o gato da água. Mas para que não acusem NV de estar a fugir à questão, depois daquela provincianice de ontem da eleição de uma suplente para uma comissão temporária, hoje mesmo, há exactamente 45 minutos, recebemos novo e-mail difundido pela assistente da estreante eurodeputada lusa. A propósito da recuperação das áreas sinistradas pelos incêndios na Serra do caldeirão, a central de imagem de Jamila Madeira afirma que ela própria, claro, mas também António Costa, Capoulas Santos e Paulo Casaca, «interrogam o Executivo Comunitário sobre a aplicação da política comunitária de desenvolvimento rural às áreas sinistradas pelo fogo, em Portugal, especialmente no Algarve e no Sul do Alentejo».
- (Isso interessa. O que é que interpelam? Diga-nos… seja concreto…) - «Tenham calma! Não somos o Scolari! Já que vos interessa, a central de imagem interroga a Comissão sobre "quais os instrumentos da política comunitária de desenvolvimento rural - através do FEOGA-Orientação, do FEOGA-Garantia e do Fundo de Solidariedade - actualmente disponíveis para a recuperação do território devastado pelos incêndios de 2003 e 2004", "com que montantes são eles dotados" e "qual o grau de execução em Portugal das verbas correspondentes a esses instrumentos"
Ora. fazem essa interpelação à Comissão e ao mesmo tempo declaram que perante o que constataram no terreno "onde pouco ou nada foi feito para responder a este desastre de enormes proporções", torna-se fundamental esclarecer a razão de ser desta situação.
- (E acha mal que perguntem isso?) - «Naturalmente que não achamos nenhum mal em que os eurodeputados da central de imagem perguntem isso e até poderiam perguntar muito mais. O problema consiste em divulgarem as perguntas sem terem as respostas que possivelmente nunca terão ou se tiverem será tarde a más horas, sugerindo até que nem terão tanto interesse nas respostas mas apenas em que as perguntas sejam divulgadas para mero protagonismo político interno, protagonismo provinciano.»
- (Mas António Costa, Capoulas e Casaca precisam desse tipo de diplomacia europarlamentar?) - «Se calhar precisam, porque perguntas dessas basta fazê-las a uma mão, não sendo necessárias quatro. Importa dizer, no entanto, que na cauda dessa interpelação, esse quarteto de eurodeputados diz algo de mais grave, de muito mais grave, e que deveria ter sido apresentado não em Bruxelas/Estrasburgo mas em S. bento, na Assembleia da República e, já agora ao Presidente da República que anda por aí a dizer que a UE precisa de uma central de imagem para colocar os jornalistas na ordem.
- (Dizem o quê concretamente? Diga-nos…) - «Já vos disse que não somos o Scolari! Ora bem, já que têm interesse em saber, comunico-vos que esse quarteto de eurodeputados declarou, na mesma interpelação que “É, aliás, motivo de profundo choque saber que, no presente período de programação, Portugal já devolveu 300 milhões de Euros de fundos comunitários, destinados ao desenvolvimento rural, por não ter sido capaz de encontrar onde os aplicar. Facto em contraste com a gritante necessidade de aplicar rapidamente verbas na recuperação das florestas devastadas, das culturas, dos campos, a fim de evitar a desertificação, humana e natural, de uma vasta área do território europeu.”
3 – (O quê? Diz-nos que 300 milhões de euros foram devolvidos por Portugal não tre sido capaz de os aplicar?) - «Isso mesmo. E foi nessa base que o quarteto avançou com mais duas perguntas. Primeira pergunta - "quais os pedidos feitos pelas Autoridades Portuguesas para reforço dos instrumentos da Política Comunitária ou para a criação de novos instrumentos” e, segunda pergunta – “quando foram apresentados os pedidos, qual a resposta dada pela Comissão Europeia e quando vão estar operacionais". Ora, estas perguntas, na prática, vão ter que ser respondidas pela Comissão presidida por Durão Barroso, anterior primeiro-ministro português como os senhores sabem e Sampaio sabe melhor do que ninguém, quando deviam ser dirigidas – em primeira linha – ao actual primeiro-ministro Santana Lopes e, tratando-se de uma incapacidade do País em aplicar 300 milhões de euros, Sampaio não deveria desconhecer, porque Portugal perder 300 milhões de euros tira a serenidade a qualquer dos poucos eleitores que ainda não estão alheados da Europa. Esse é um assunto eminentemente interno, muito mais importante do que o empate com o Luxemburgo, do que o silêncio presidencial e do que o tabu do professor Marcelo. No entanto os eurodeputados, com ânsia, querem fazer lá fora o que outros deviam fazer cá dentro, entre nós, elevando a discussão política ao patamar do debate sobre a coisa pública que toca a todos. Naturalmente que sem este debate interno e intenso, perguntas com aquela ânsia do quarteto correm o risco de ser classificadas na imensidão das centenas de eurodeputados, como “um mero acerto de contas entre portugueses ansiosos” e nada mais. Qualquer diplomata sabe que a ânsia é a doença infantil do político.»
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