25 janeiro 2005

Briefing da Uma. Viagens, ONU, Genebra, Andorra, Angola

Briefing da Uma. «Contar em demasia com o comprovado demérito alheio é o mesmo que, antes da festa, incendiar a fábrica do fogo de artifício», costumava afirmar o mais sério dos chanceleres das ordens honoríficas portuguesas a cada um dos propostos para condecoração.

1 – Viagens de Carlos Gonçalves
2 – ONU classificada como ONG
3 – Círculo Eleitoral de Genebra
4 – Monteiro/Andorra
5 – Monteiro/Angola

1 – (O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Carlos Gonçalves, acaba de fazer mais uma viagem à França. Sendo ele também candidato, cabeça de lista pelo seu partido pelo Círculo da Europa, é normal?) - «Se o Secretário de Estado das Comunidades, Carlos Gonçalves, em Outubro foi à França, em Novembro à França foi, em Dezembro voltou à França e no início de Janeiro à França voltou, porque é que neste final deste mesmo Janeiro não haveria de voltar outra vez à França com um salto ao Luxemburgo? A campanha eleitoral não começou, Portugal ainda está na fase da pré-campanha e só ignorantes, mal-intencionados e inimigos da boa imagem externa do Estado é que não compreendem que uma coisa é Carlos-Gonçalves-Secretário-de-Estado e outra é Carlos-Gonçalves-candidato-e-cabeça-de-lista»

(Não nos pode dizer o que foi ele fazer nesta última vez à França?) - «Posso. Carlos Gonçalves foi inaugurar centros emissores de bilhetes de identidade».

(Isso também se inaugura) - «Não deveríamos responder a essa pergunta que não passa de provocação. Você não sabe que a tradição portuguesa é precisamente a de inaugurar?)

(Tradição?) - «Sim tradição. No início da década de 70, chegou a ser inaugurada uma fotocopiadora e um policopiador a álcool num consulado, o que mereceu notícia de primeira página e no final dessa mesma década foi inaugurado um telefax, coisa que justificou uma viagem oficial. Isto para não referirmos a inauguração das lavandarias do Sheraton (às Picoas) pelo ilustre Presidente Tomás que igualmente em acto oficial inaugurou as escadas rolantes da estação de Metro do Parque Eduardo VII. Com uma tradição destas porque é que o secretário-candidato Carlos Gonçalves não haveria de inaugurar um centro emissores de bilhetes de identidade? Riam mas só daqui a trinta anos.»

2 – (Foi afirmado em NV que um site oficial do MNE coloca a Organização das Nações Unidas na lista das Organizações Não Governamentais. É verdade?) - «É verdade e acreditamos que essa manifestação de ignorância crassa apenas ainda se mantenha porque Carlos Gonçalves talvez ainda esteja a inaugurar centros emissores de bilhetes de identidade. Podemos acrescentar que esse site intitula-se Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas que como se sabe não existe... No organograma do MNE, ao do de dois outros secretários de Estado, há um Secretário de Estado das Comunidades que tutela uma única Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas e nada mais. Não há nenhuma Secretaria de Estado e até poderia nem existir secretário de Estado porque é o Director-Geral que faz tudo – o que pode e o que não pode. Há muito que os secretários de Estado apenas viajam mostrando-se aos emigrantes como presidentes da república em miniatura, alguns, por sinal em letra muito pequena e fazendo tristes figuras. O historial é grande.»

3 – (Desenvolvimentos no caso de Genebra em que o candidato Manuel de Melo se opõe à Cônsul Geral?) - «Este é um caso em que a Inspecção Diplomática e Consular deveria ter actuado rápidamente, velozmente e doesse a quem doesse. Os episódios com Manuel de Melo arrastam-se desde 1999, há cinco anos portanto. Já era tempo da inspecção e dos tribunais terem decidido, punindo ou ilibando, ilibando ou punindo. Até agora temos tido uma verdadeira guerra de comunicados, cada qual com as suas verdades e inverdades. Pode não ser o caso, mas infelizmente há alguns cônsules-gerais, poucos mas há, que também se julgam presidentes da república em miniatura mal o MNE volte as costas na visita de pompa. O historial não é pequeno.»

4 – (O Ministro António Monteiro esteve em Andorra. Foi importante?) - «Andorra é um voto na ONU e um voto na Península . Foi importante porque uma pulga pode incomodar um elefante.»

(Houve declaração conjunta?) - «Houve. Isso será oportunamente arquivado em Notas Formais.»

5 – (O Ministro António Monteiro parte esta noite para Angola. Será importante?) - «Boa pergunta, essa. Curiosamente, os angolanos são amiúde acusados de não terem ultrapassado a cultura de guerra que lhes ficou de anos e anos de violência interna. No entanto, apesar dos percalços, os partidos angolanos, todos (da FNLA, MPLA à UNITA) dão mostras de quererem agora e em definitivo uma cultura de paz o que se comprova até pela extrema paciência que revelam reciprocamente. A política portuguesa para Angola ou a visão política portuguesa sobre Angola é que não há meio de deixar de estar informada pela lupa da guerra ou pela cultura de guerra que, po simpatia ou imitação, em Portugal também se gerou a propósito de Angola. Se António Monteiro conseguir provar em Luanda e convencer os angolanos de que Portugal pode ser ou é o melhor advogado ou parceiro facilitador de Angola, por exemplo junto da União Europeia e no objectivo da convocação da conferência internacional de doadores, deixará certamente bom trabalho para si próprio se eventualmente ele a si próprio se suceder nas Necessidades ou para outro MNE que proximamente lhe suceda e que dificilmente poderá fazer o mesmo que Monteiro agora, na hora H, pode fazer, em função do que Angola lhe deve pelo que ele fez nas Nações Unidas, no Conselho de Segurança, noutra hora também H para Luanda. Ou seja: Monteiro deixa trabalho feito e sem espalhafate. Aguardemos.»

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