02 fevereiro 2005

Falcão Machado. As «questões operacionais»...

O Embaixador Francisco Falcão Machado chegou a Bagdad, «ultrapassadas as questões operacionais que o retiveram durante alguns dias na capital da Jordânia» nos termos que, com delicadeza e finura (excessiva, a nosso ver...), o Porta Voz das Necessidades, António Carneiro Jacinto dedicou ao caso (hoje mesmo) a contrastar com as declarações do gabinete do Primeiro Ministro que, há dias, tratou o Embaixador como se fosse uma amostra sem valor à semelhança das encomendas que outrora se despachavam nos balcões dos antigos CTT.

Ora, o que se passou ou, melhor, que «questões operacionais» foram essas?

Para já, o agrément a Falcão Machado foi concedido pelas autoridades de Bagdad apenas no dia 4 de Janeiro e a Embaixada do Iraque em Lisboa só pode confirmar isto mesmo. Concedido o agrément, naturalmente que haveria procedimentos, vários, da parte portuguesa, o último dos quais é o da publicação da nomeação do embaixador pelo Diário da República (e não apenas pela Rádio Renascença e muito menos por Notas Verbais...) mas supondo, além disso, a assinatura das Cartas Credenciais pelo Presidente da República, formalizada a proposta a Belém, como deve ser, pelo Primeiro Ministro... tramitação morosa, sem dúvida, e que ora encalha aqui, ora encalha acoli. Todos os diplomatas sabem que assim é, a começar pelos que como assessores diplomáticos são destacados para S. Bento.

Ora, sem Cartas Credenciais assinadas por Sampaio, sem nomeação publicada na folha oficial e sem bilhete de avião sequer na mão, como é que o Embaixador Falcão Machado que revelou uma coragem que é exemplar para os seus colegas de carreira ao manifestar ao Ministro António Monteiro total disponibilidade para a missão, poderia partir? Não poderia nem deveria, mesmo que Bagdad fosse Londres, Paris ou Washington ou, que fosse ao menos Abuja!

E como é que o gabinete do Primeiro Ministro, estando o MNE ausente em visita oficial (Angola), diz que ordena a partida, que deu ordens, enfim que despachou um diplomata ao balcão dos CTT, sem aquilatar e salvaguardar as razões que as Necessidades, com civilidade e trato agora qualifica de operacionais mas que toda a gente percebeu que eram «razões de segurança»? E sendo as razões desta ordem, é assim no estilo dos antigos CTT que se dizem as coisas? Não é, estando em jogo o que está.

O certo é que o Embaixador Falcão Machado, apesar de lhe ter sido concedido o agrément por Bagdad mas sem Cartas Credenciais assinadas por Sampaio, acabou por ser nomeado em «comissão de serviço» extraordinária, por receber o bilhete de avião no dia 26 de Janeiro ao fim da tarde mas partindo logo na manhã do dia seguinte (27) rumo a Amã. E não foi segredo para ninguém - muito menos segredo de Estado para Portugal porque as agências noticiosas internacionais deram conta do facto - assim que Falcão Machado chegou à capital da Jordânia, as conexões aéreas para o Iraque foram canceladas por razões de segurança, com o aeroporto de Bagdad a ser encerrado.

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