NV admitem que Freitas do Amaral teria toda a conveniência em ler esta Carta, conversar com António Braga sobre o que se destaca a negro e envolve o Consulado de Toronto, Emigrantes Portugueses, teias locais...CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão
A VER VAMOS
A vitória eleitoral do Partido Socialista estava garantida pelo facto de, após a queda do império soviético, os povos terem deixado de sentir medo do marxismo e suas possíveis alianças com o leninismo, por um lado, e pela situação de queda na vertical do país ocasionada pela incompetência, corrupção e laxismo dos três últimos governos, por outro lado. A massiva derrota nas urnas da direita não significa que o eleitorado se tenha todo convertido à esquerda, mas sim ao pragmatismo saudável que os eleitorados maduros já praticam em vários países. O Canadá é um deles. O equivalente ao PS, no xadrez canadiano, é o Partido Liberal, em que votam as grandes massas de emigrantes, ou seja, de trabalhadores. O PSD equivale ao Partido Conservador, esse que, depois da época dourada dos líderes carismáticos e prestigiados, averbou uma derrota histórica, por exclusiva culpa do mau governo de Brian Mulroney, de que nunca mais se recompôs. O resto são franjas partidárias sem expressão. Os canadianos, confortados com a chefia do estado pela Raínha Isabel de Inglaterra, votam num ou noutro partido conforme a conjuntura nacional e as aneiras averbadas pelos governos em exercício. Fazem-no sem estados de alma nem complexos, contando à partida com a tranquilidade de um país que funciona sempre nas suas estruturas básicas porque a sua administração pública não está partidarizada. Os governos alternam-se, mas não há a dança grotesca dos saneamentos, da colocação de boys partidários, da instalação de parentes, aderentes e compadres, na função pública. Este pormenor faz toda a diferença entre uma democracia madura, responsável e limpa, e outras que, ao fim de 30 anos de prática, continuam a reger-se por critérios de “confiança política” e não de competência. Espera-se que o novo governo de Portugal represente uma nova mentalidade, uma nova era.
Pessoalmente, acho positivo que não se tenham registado ruidosas celebrações da vitória, prova de que o eleitorado aprendeu a ser contido, a esperar para ver; que o PC ocupe o terceiro lugar, em vez do BE, porque a população quer é o capitalismo selvagem vigiado pelos sindicatos, em vez de tronitruantes campanhas à roda do aborto, droga e eutanásia feitas por meninos ricos e bem instalados na vida, isto é, meninos que não têm nada que fazer; que o governo seja composto por independentes e socialistas em número igual.
O lado negativo, para mim, foi o horrendo mau perder do PSD e do CDS, em que os respectivos líderes acabaram por se classificar por inteiro perante o povo como lídimos retratos vivos da baixaria. E last but not least, a composição da actual secretaria de estado das Comunidades.
Estamos perante uma equipa de quem não se espera nada de positivo, concreto e eficiente, sendo a única esperança dos emigrantes o ministro dos Negócios Estrangeiros, que tutela essa secretaria de estado. Freitas do Amaral terá outros defeitos, mas não é incompetente nem corrupto e, por conseguinte, não tolerará incompetências e corrupções. Tudo reside em ele estar informado do que, de facto, se tem passado e se passa nos consulados, nas embaixadas, nas associações comunitárias, nos arraiais dos deputados pela emigração, nos leitorados de Português a cargo do Instituto Camões, no modo como os coordenadores do ensino de Português são hostilizados, ao menos veladamente, e sobretudo se são competentes e isentos, por agentes diplomáticos servindo obscuros interesses ou grosseiras falhas de profissionalismo e de carácter.
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Não sendo a comunidade portuguesa do Canadá uma excepção, é legítimo multiplicar este quadro por n vezes. E assim sendo, fácil é concluir que o ministro Freitas do Amaral tem diante de si uma enorme e urgente tarefa: devolver às comunidades a dignidade e o bom nome a que têm direito, limpando de vez toda esta sujeira. E, o que não é de somenos, acabando com a injustiça de pôr as comunidades a pensar que embaixadores e cônsules, mailos respectivos funcionários, é tudo uma tralha. Em Toronto, provisoriamente, depois da saída do ex-cônsul Magalhães por exigência da polícia canadiana, está um diplomata honesto, competente, digno e discreto: Veiga Domingos. Mesmo estando aqui há pouco tempo e por pouco tempo, não merece ser misturado, ao menos em termos de imagem pública, com a fruta pôdre que, depois do nunca esquecido cônsul António Montenegro, atravancou o consulado de Portugal em Toronto. E no mesmo consulado, há alguns funcionários exemplares.
A ver vamos, se entra ordem na desordem.
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