A diplomacia mundial (designadamente a portuguesa por obra e graça do Fundo de Relações Internacionais) já conhecia as oito bem-aventuranças que já tanta gente fez entrar no reino dos céus e da folgança, sobretudo conselheiros de nomeação política. Mas ficamos agora a saber que os trabalhadores dos serviços externos do MNE, pelos vistos, não têm nem uma única bem-aventurança, e que pelo contrário vivem a penar com dez mal-aventuranças.
Pois, naquele dia, a Comissão Executiva do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas, subiu à Torre das Necessidades e disse, deixando a turba pasmada:
«Em verdade, em verdade vos digo que:
1.ª Mal-aventurança – Somos mal aventurados porque não foram executadas as actualizações relativas a 2002, 2003 e 2004 respeitantes aos trabalhadores contratados e nem sequer negociadas a actualização destes trabalhadores em 2001 e a actualização geral 2005;
2.ª – Mal-aventurados porque não se procede, desde 2001, à legalmente exigida classificação de serviço/avaliação de desempenho, condição imprescindível à evolução na carreira;
3ª – Mal-aventurados porque deixaram de ter lugar acções de formação profissional, um direito cada vez mais imprescindível e ligado à modernização de uma Administração Pública que se pretende a funcionar por objectivos;
4.ª – Mal-aventurados porque vem sendo exigido trabalho extraordinário não autorizado nem pago nos termos da lei;
5.ª – Mal-aventurados porque se mantêm trabalhadores contratados sem protecção social;
6.ª – Mal-aventurados porque não se procede à devida acreditação dos funcionários junto das autoridades locais;
7.ª – Mal-aventurados porque mantêm-se trabalhadores nas residências sem contratos de trabalho formalizados;
8.ª – Mal-aventurados porque não se viabiliza a concessão generalizada de passaporte especial aos novos funcionários;
9.ª – Mal-aventurados porque há quase seis anos que não são abertos concursos de acesso, negando aos trabalhadores o direito à carreira e decapitando os postos em chefias e técnicos;
10.ª – Mal-aventurados porque não são abertos concursos de ingresso há quase seis anos, provocando graves carências de recursos humanos – precariamente colmatadas pelo sistemático e ilegal recurso a contratados a termo certo e a falsos prestadores de serviços – e o progressivo envelhecimento e desmotivação do conjunto dos trabalhadores dos quadros.»
Dito isto, o sindicato marcou greve de três dias para 2, 3 e 4 de Novembro.
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