Briefing da Uma. E por hoje aqui fica o pensamento mais linear que jamais alguém teve mas do qual muita gente (sobretudo diplomatas e jornalistas) se esquece minuto a minuto: «Para se fazer as coisas a horas, é preciso ter tempo».
1 – Freitas/multilateralismo
2 – Porta-voz/Necessidades/Quai d’Orsay/Washington
3 – Cooperação/FOCID
(Desculpem estas duas horas de atraso, mas a sala apenas agora ficou disponível. A formação em política externa ministrada pelo Instituto Diplomático leva horas infinitas, quando nem para a política interna há tempo.)
1 – (O senhor chamou a atenção, obrigado pela minha parte, pois nunca tive o hábito de ler a folha oficial, chamou a atenção para as largas dezenas de avisos oficiais envolvendo instrumentos diplomáticos em vigor, alguns deveras importantes e não apenas politicamente, mas para as ordens jurídicas internas dos Estados. Freitas está a limpar a Casa?) – Desculpe-me o reparo mas sabemos que desapareceu das principais redacções portuguesas a regra profissional de consultar a folha oficial, pelo menos na parte especializada que interessará ao jornalista. E compreende-se, pois esta regra foi esvaziada pelos avisos e alertas dos assessores dos gabinetes muito antes mesmo da publicação dos diplomas, quase sempre correspondendo a meros interesses políticos directos pintados depois pelas redacções com as cores de cacha – agoira para um semário, depois para um canal de televisão, quando for conveniente para uma tal rádio… não sendo cacha nem nada que se aproxime de cacha mas tão só uma amostra da promiscuidade que continua a haver entre Política e Jornalismo, com maior precisão entre Poder e Jornalismo – no que Paulo Portas foi campeão, de um e do outro lado.
(Deixe-se de considerandos, por favor e responda-me à questão) – Com todo o gosto. Freitas do Amaral está a revelar trabalho e grande preocupação na área do multilateralismo tal como prometera no discurso de posse. Posso dizer-lhe que está a fazer trabalho que já devia ter sido feiro no tempo de Jaime Gama, no tempo de Martins da Cruz, no tempo de Teresa Pinto Bessa (Gouveia) e no breve tempo de António Monteiro que não chegou a ter tempo.
(Seja concreto, por favor. Dê um exemplo!) – Bem estou a ver que, sendo Jornalista acreditada em NV, a senhora continua a não ler a folha oficial… Se tivesse lido o Diário da República de ontem, teria constatado, por exemplo, que só agora, pela mão de Freitas, Portugal e a CPLP trocaram os instrumentos de ratificação do Acordo de sede dessa organização, acordo esse assinado já quase na pré-história, em Julho de 1998! Oito anos para consumar um procedimento envolvendo uma realidade situada na própria capital portuguesa!
(Oito anos?) – Oito anos precisamente. Mas não é por isso que a CPLP não funciona e que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa não sai do papel e de dois ou três ordenados de instalação, enquanto o Camões se entusiasma com a Casa das Línguas Ibéricas.
(Línguas ibéricas?) – Um dia destes falaremos sobre esta mais recente e notabilíssima façanha do Camões. Vamos a outro ponto.
2 – (Com essas histórias dos briefings dos porta-vozes do Quai d’Orsay e do Departamento de Estado norte-americano, pretende sugerir que o Porta-voz das Necessidades deveria fazer briefings diários?) – Não digo diários porque fazer isso diariamente é tarefa que cumpre às Notas Verbais, mas pelo menos briefings semanais. Houve várias tentativas nesse sentido até da parte do Porta-voz António Carneiro Jacinto e que, me recorde, a mais antiga terá pertencido ao embaixador Marcello Mathias quando vai para vinte anos chefiou os serviços de comunicação social. Sempre sem aquele êxito que legitima a continuidade.
(E porquê?) – Em algum momento, para mais breve do que pensam, responderemos a essa questão para o que será necessário fazer alguma história.
(História? Mais um mestrado?) – Não, por quem os senhores nos tomam! Jamais faremos o que a Estrela Serrano depois do seu consulado mediático em Belém – um mestrado revelando a forma como um assessor presidencial, a final andou à caça de passarinhos, ou seja, de jornalistas pequeninos e com duas asas que não resistem à tentação de deixar uma aguida sossegada.
(Seja concreto e deixe os passarinhos em paz) – Tem razão, vamos deixar a aguida e também os passarinhos em paz, nos seus mestrados em seus ninhos - com isto fazendo-se uma modesta homenagem ao ministro Santos Silva que ainda não percebeu o que já aconteceu, acontece e vai acontecer mais na Comunicação Social, e não percebeu porque por mais de uma vez caiu que nem um passarinho. Mas voltando à questão do Porta-voz das Necessidades, não podemos falar do presente sem tirar lições do passado, do passado recente sobretudo. Daí que teremos de recordar a gesta de Horácio Vale César e o que se lhe seguiu com Fernando Lima sob o alto patrocínio de Martins da Cruz a quem Teresa Pinto Bessa (Gouveia) sucedeu, na prática, como Porta-voz ou sem ele.
3 – (Relativamente à Cooperação, duas questões ou, por outras palavras, dois desafios: - Primeiro, se o senhor aqui estivesse sendo, que perguntas faria? Segundo, porque se insurgiu contra o SOFID?) – Ainda bem que fala nisso. Se estivesse aí sentado, teria 147 perguntas a fazer sobre a Cooperação portuguesa. Por agora bastam 3 que foi a conta que a Cooperação sempre fez:
- Sempre que ou caso se critique a política de Cooperação, é isso e por só «falar mal de tudo e de mais alguma coisa» como se a Cooperação apenas tivesse anjos quando eu estou no poder e diabos quando eu estou na oposição?
- Qual foi a reestruturação da Cooperação, das muitas que houve desde há 10, 15 anos, que não foi apresentada como «funcional» e como guardiã da «transparência», tendo todas falhado na função e na clareza?
- Quem é que esteve à frente da Cooperação desde que ela foi criada que não tenha invocado e auto justificado com a «orientação estratégica», quando não há estratégia possível sem a fiscalização de projectos, a avaliação de projectos e auditoria de resultados?
(Sim senhor, percebemos onde NV querem chegar e depreendemos que estão à altura de discutir a matéria com Cravinho. E agora quanto a esse SOFID, o que tem para dizer para estar contra?) – Apenas um analfabeto ou algum pateta alegre é que, julgando que agrada a Cravinho, pode ter lido nas nossas palavras alguma oposição à criação de uma Sociedade Financeira para o Desenvolvimento. Há 20 anos, 10, cinco, dois, no ano passado, há dois meses, há quatro dias, sempre escrevemos a defender a criação desse instrumento financeiro que nunca houve, jamais teve existência no figurino de sociedade financeira – houve sim uma contabilidade de merceeiro, promíscua e que nem uma nem duas vezes roçou a corrupção com todos os casos sempre bem abafados. Sabemos do que estamos a falar e não pensem os prevaricadores que os documentos foram todos destruídos… E ponto final. Não estamos contra a criação da Sociedade Financeira para o Desenvolvimento ou SOFID na sigla oficial e muito menos estamos contra a criação de um grupo de trabalho para erguer essa estrutura. Criticamos sim é que não tenha sido fixado um prazo para o grupo de trabalho dar o trabalho por terminado e criticamos também que para se definir a orientação estratégica desse instrumento financeiro se tenha que recorrer «conjuntamente» a três ministros do mesmo governo. Bastava um (MNE, este sim com a estratégia ou então não é MNE), com a garantia técnica de outro (Economia) e a de fiscalização de outro (Finanças). Mal de um governo quando todos os ministros querem ser se alguma forma dos negócios estrangeiros esvaziando o que por definição assim é.
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