A agenda político-diplomática portuguesa é hoje dificilmente reconhecível. Mas a ausência de agenda não significa que a diplomacia portuguesa esteja alheada do que se passa à sua volta ou que não esteja ao corrente das políticas externas dos outros que interessam e da política internacional. Em função desta atenção haverá certamente uma «agenda de gabinete» administrada com calculada discrição e da qual apenas se dá conta quando o ministro ou os secretários de Estado se deslocam, recebem, visitam ou ainda quando assinam algo mesmo que algo não passe de intenções. Pouco mais.
À falta dessa agenda e de iniciativas projectadas no calendário político-diplomático, o debate público das matérias internacionais que se cruzam com a política externa portuguesa arrasta-se assim numa dependência das agendas alheias, dos acontecimentos alheios e dos interesses a que Portugal em larga medida é alheio.
É certo que, de vez em quando e com deliberada ânsia pelo efeito de surpresa, os detentores da tal «agenda de gabinete» produzem uma ou outra iniciativa sobre a qual são então apontados os holofotes mediáticos até à saturação, como se fosse espécie de milagre semelhante ao que Fátima tanto necessita no plano de crédito da agenda divina. Mas depois dessa onda de choque entusiasta pelo feito das Necessidades e em que se chega a mostrar até algo de nós próprios, volta-se aos períodos de prolongada lassidão, das rotinas de dependência da agenda dos outros, da diplomacia reduzida à burocracia, ao protocolo e ao ritual das hierarquias do poder. Viu-se, por exemplo, com Timor que afinal Portugal, apesar das doses de voluntarismo (até mesmo voluntarismo diplomático), não tinha uma agenda dos direitos humanos – invocava os direitos humanos porque para o caso interessava quanto mais não fopsse por uma questão de honra. Esse foi um exemplo de como as lágrimas em diplomacia envelhecem rapidamente, pelo hoje não há rastros de uma diplomacia dos direitos humanos nas Necessidades e que faça prova de estar na agenda ou ser agenda.
Discutimos todos com muito vigor, e alguns até com ares de insubstituíveis peritos, uma decisão norte-americana mas após a decisão, damos lições sobre qualquer coisa que não vá bem no Reino da Dinamarca mas só depois de não ir bem, mostramo-nos exímios conhecedores do que salta na balança e vai dar ao rei de França mas terminado o salto...
A nossa agenda, essa, ou está fechada a sete chaves e quem a revele mesmo que parcialmente contra a vontade do decisor é quase apontado a dedo como praticando acto de excepção sediciosa, ou pura e simplesmente não existe não passando, pois, tal agenda do roteiro de viagem, da audiência, da assinatura de algo que nem se sabe muito bem se ou como vai ser cumprido e com que custo e vantagem - o que vai dar no mesmo que não ter agenda.
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