07 fevereiro 2006

«Declaração Freitas». Áquem e para além.

Várias tentativas para, enfim, se pesar a Declaração do Ministro Freitas da Amaral. É que não se passava de metade da primeira linha, sem que não se entrasse imediatamente em matéria não só estranha à política externa e ao arrepio da actividade diplomática, mas também longe de qualquer razão de Estado. Se tal Declaração fosse uma entre muitas, e estas muitas todas recentes, enfim, até se aceitaria algum deslize pelo meio de rotina intensa, algum momento compreensivelmente infeliz ou de pouca inspiração para a substância - o acidental trai quem é fiel a rotinas. Mas não. Mesmo que tenha havido matérias, as Declarações têm sido raras e escassas, pelo que esta Declaração aparece com um acto isolado, recortado. E o que nela subjaz está áquem da política externa - o indicativo de que «são as figuras de Cristo e da sua Mãe, Maria»; anula a linha de horizonte possível da actividade diplomática - «a figura do Profeta Maomé»; e, finalmente, está para além de qualquer razão de Estado - aquele «sabendo-se» que três religiões em causa «descendem todas do mesmo profeta, Abraão». Daí que não se saia de metade da primeira linha sem cair em apreciações licenciosas porque desprovidas de qualquer relação directa e útil com as funções e competências de Ministro dos Negócios Estrangeiros.

C.A.

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