Desta vez, gente expulsa da sala...
Briefing da Uma. Sim, estamos com Óscar Wilde: «A experiência é aquilo que cada um de nós chama aos seus erros».
1 – Alargou-se para Leste…
2 – É este e só este o factor crítico…
3 – Saúdo…
4 – O mar é…
5 – Emigrantes, a quem expresso…
6 – Pois fora da política externa e da política interna…
7 – É bom que não nos esqueçamos…
8 – UE, acredito firmemente mas…
9 – Imagem…
10 – A «outra margem do Atlântico»…
- Boa tarde a todos! Tal como foi anunciado e como podem verificar pelo temário que vos foi distribuído, o briefing de hoje está centrado apenas e só no discurso de posse do PR CS. Aceitaremos no máximo dez perguntas. Alguma questão prévia?
(Sim, obrigado. Uma questão prévia. O vosso temário vem cheio de reticências. É intencional?) – Podemos responder a essa questão com muitas mais reticências…
1 - (O PR CS afirmou que a UE «se alargou para leste»… Poderia ter-se alargado noutras direcções?) – Não sabemos aonde pretende chegar com isso. Cumpre-nos dizer exactamente o que o PR disse: «Vivemos num mundo que é cada vez mais global, somos membros de uma União Europeia que se alargou para leste e, por isso, a produção nacional está sujeita a uma fortíssima concorrência nos mercados interno e externo. Esta é uma realidade que se nos impõe.»
2 –(Dirió PR CS, el atraso competitivo morar em la periféria. Amadora?) – Neste briefing não toleraremos provocações e a vossa questão pode ser entendida como isso. Em todo o caso, como você é correspondente russo e não domina a língua portuguesa, admitimos que esteja de boa fé, pelo que lhe repetimos com exactidão o pensamento do PR CS sobre essa matéria: «Para além disso, somos periferia da Europa, estamos geograficamente situados no seu extremo sudoeste. Aparentemente, olhamos para um mundo que nos é adverso. Mas, vendo bem, somos o espaço onde a Europa se abre ao Atlântico, o que pode ser uma enorme vantagem. Acresce que, hoje, a periferia já não é ditada pela geografia. A periferia é onde mora o atraso competitivo. É este e só este o factor crítico.»
3 – (O PR CS usou a palavra portuguesa «algo» para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Pode concretizar?) – O PR CS não usou a palavra lusofonia, fez questão em pronunciar países africanos de expressão oficial portuguesa – portanto PALOP evoluiu para PAEOP – e sobretudo saudou, e no saudar já está uma indicação de política externa. O que Vossas Excelências mais queriam? Exactamente o que o PR CS disse foi isto: «Se é verdade que a Pátria não é só a língua portuguesa, não é menos certo que ela constitui o maior símbolo de identidade colectiva de um povo que se caracteriza também pela sua vocação humanista e universalista. Saúdo, assim, de uma forma particularmente calorosa, os países africanos de expressão oficial portuguesa, o Brasil e Timor. A todos nos ligam fortíssimos laços que a história teceu, com todos mantemos relações privilegiadas, falamos um idioma comum, formamos a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Podemos de alguma maneira dizer que constituímos uma comunidade de destino. Não me pouparei a esforços para valorizar esta comunidade que somos, convicto de que, em conjunto, seremos capazes de construir algo que é muito maior que a soma das suas partes.» Esse algo é muito claro.
4 – (Uma pergunta sobre o Mar. Há ainda algum mar sob jurisdição nacional?) - Mas que ignorância! Os senhores deviam estudar bem as questões antres de entrarem nesta sala. O que o PR CS disse foi isto e nada mais: «“Nesga de terra debruada de mar”, assim qualificou Miguel Torga o nosso Portugal. É tempo de prestar ao mar uma nova atenção. A vasta área marítima sob jurisdição nacional, que nos posiciona como uma grande nação oceânica, ponte natural entre a Europa, a África e a América, encerra potencialidades económicas e um valor estratégico que não podemos ignorar. O mar, para além do seu significado histórico, constitui, para Portugal, uma enorme oportunidade.»
5 –(E para os Emigrantes? O PR CS disse mais alguma coisa que os PR anteriores já não tenham dito? É verdade que sugeriu que os emigrantes não estão a ver bem e que, portanto, são míopes?) – Mais uma provocação desse género e ordenamos a evacuação da sala. Peço-vos respeito, muito respeitinho! Ora bem, o que o PR CS disse foi isto e só isto: «Aos portugueses espalhados pelo mundo, a quem expresso o meu apreço e solidariedade, peço que, na medida em que lhes for possível, lancem um novo olhar sobre as oportunidades de investimento e criação de riqueza no País que é de todos nós.» Acham que pedir aos emigrantes que lancem um novo olhar é dizer que eles não estão a ver bem como está a banca portuguesa e a imobiliária portuguesa?
6 – (Pór fávórr! PR CS a dicho qui non es posbel pinsar política exteriorr sem política interriorr… a sido mismo?) - A senhora é turca e está desculpada de não ter entendido a profundidade que está nos segundos sentidos da língua portuguesa. Vou repetir exactamente o que o PR CS disse: «Não é possível pensar a política externa independentemente da realidade interna do País. A defesa dos interesses de Portugal na cena internacional será tanto mais fácil quanto mais confiantes nos sentirmos nas nossas capacidades. Um país estável e mobilizado, um país que cresce e progride, um país que cria e inova, um país que é capaz de abraçar as oportunidades que se lhe oferecem, será certamente um actor muito mais credível e respeitado na cena internacional.» Entendeu agora?
7 – (Mas afinal o PR CS acredita no quê?) – Duvida que ele acredite? O PR CS disse claramente na primeira pessoa exactamente isto: «Eu acredito num Portugal forte e digno da sua História. Um país que traga a esse projecto extraordinário que é a União Europeia uma contribuição própria e uma participação activa. A União Europeia alargou-se e outros alargamentos se preparam. E tal acontece porque a União Europeia é um projecto de sucesso. Neste período de reflexão sobre o futuro da Europa, é bom que não nos esqueçamos disso». Como verificam, esta é uma contribuição própria e uma participação activa.
8 – (O PR CS, a propósito da integração europeia, falou de um risco. Que risco é esse?) – Com exactidão, o que o PR CS afirmou foi isto: «Mas não nos iludamos: há o risco de que os cidadãos se não revejam nesta União Europeia que vamos construindo, seja porque se sentem demasiado longe dos seus processos de decisão, seja porque nela não encontram resposta para os problemas que os preocupam. Acredito firmemente no projecto de integração europeia. A União Europeia constitui um quadro fundamental para a afirmação dos nossos interesses. Mas é preciso que os nossos parceiros nos vejam como um actor empenhado e participativo, capaz de constituir uma mais-valia. »
(Como um actor empenhado? O actor não está já empenhado? E o problema é de ser actor ou de não ser autor também? Não há por aí confusão técnica e terminológica) – O senhor está a ir longe demais. De certeza não lhe irei conceder o direito a nova pergunta.
9 – (Para a próxima Presidência portuguesa da UE, o PR preocupou-se com a imagem ou com a substância?) – O senhor não ouviu? Se não ouviu, ouça: «No segundo semestre do próximo ano, Portugal assumirá, pela terceira vez, a Presidência do Conselho da União Europeia. Teremos, assim, uma oportunidade única, para, repetindo o sucesso que foram as presidências anteriores, reforçarmos a imagem de seriedade e credibilidade que temos sabido consolidar.» Ou não temos sabido consolidar?
10 – (Creio que o PR CS se referiu várias vezes à «outra margem» do Atlântico»… sem especificar países ou estados. Queria referir-se ao México, à Venezuela, ao Canadá ou apenas aos EUA?» - É errado dizer-se que o PR CS se referiu várias vezes ou que sobre esta matéria não tenha sido de um rigor extremo, preciso e cirúrgico. Senão ouçam exactamente as suas palavras: «A construção de uma relação transatlântica saudável é fundamental para Portugal e para a União Europeia. Enquanto Estados democráticos, abertos ao confronto de ideias, estamos todos, de cada um dos lados do Atlântico, particularmente bem posicionados para compreender a naturalidade da divergência de opiniões e, até, a riqueza que pode advir dessa divergência. Mas, enquanto Estados responsáveis, tudo devemos fazer para evitar que aquilo que nos une e que é o essencial, se veja sacrificado no altar daquilo que circunstancialmente nos divide. Esta é uma preocupação estratégica de Portugal a que nos conduzem as nossas circunstâncias geográficas, o nosso legado histórico, a presença de grandes comunidades portuguesas na outra margem do Atlântico e, não o esqueçamos, uma comunhão de princípios e de valores.»
(Essa referência ao sacrifício daquilo que nos une ser sacrificado no altar daquilo que nos divide, não é uma expressão blasfema? Então o altar do sacrifício divide?) – Desculpe, mas você tem que abandonar de imediato esta sala. Basta de provocações! Senhores da força da ordem, retirem este senhor da sala!)
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