12 abril 2006

Ausências de Xavier Esteves. Factores a ponderar

Dispensas & Impedimentos. Foi muito notada, no Parlamento e na região de anti-ciclones do MNE, aquela de Francisco Xavier Esteves, ter sido o único Embaixador lusófono acreditado na capital angolana, a não comparecer a nenhuma das sessões de trabalho, e nem sequer nas cerimónias de abertura e de encerramento do V Fórum dos Parlamentos de Língua Portuguesa que decorreu em Luanda (8 e 9) logo a seguir à visita de Sócrates.

E voltamos ao caso porque o caso foi tanto mais caricato que o Embaixador português em Luanda, ao que se diz para férias, viajou de retorno a Lisboa (noite de 9) no mesmo avião em que regressou o Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e comitiva parlamentar. Mas que impedimento para a dispensa a tender para o privilégio!

O problema, no caso, não é Xavier Esteves, o nome, a pessoa. O problema é o Embaixador português que não pode nem deve desconsiderar assim a Figura N.º Dois da hierarquia do Estado e relegar daquela forma um acontecimento que passa por uma das prioridades da política externa a da acção diplomática portuguesa. É apenas isto o que, em substância, está em causa.

Se a moda pega, amanhã, algum dia, porque é que um qualquer embaixador, apenas porque não goste ou não simpatize pessoalmente com Cavaco Silva, não haverá de primar pela ausência, em actos e acontecimentos que ocorram na capital onde está acreditado e em que o Presidente da República Portuguesa oficialmente participe?

Quem fez aquilo em Luanda com o Número Dois, não é que possa ou vá fazer amanhã o mesmo com o Número Um ou com o Número Três que seja noutra capital, mas deu mau exemplo com o Número Dois e deixou sugerida porta aberta para outros maus exemplos com o Número Um e com o Número Três.

A propósito, recordamo-nos de uma cena dos tempos de Deus Pinheiro, como MNE, a que assistimos. Determinado embaixador, agora sossegadamente jubilado, numa visita oficial de Mário Soares como PR ao País onde o diplomata estava acreditado (um país de referência da Europa e da Emigração portuguesa...) e a propósito de acto público iminente, cometeu a imprudência de dizer em voz alta os eguinte: «Enquanto o Presidente da República for este Soares, não comparecerei a nada, portanto não vou estar presente!»... E não esteve, acabando na justificada prateleira, o que já não foi mau.


Factores a ponderar. Episódios destes deviam acabar de vez.

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