Modelo. Em verdade, em verdade vos digo: um certo dia, acercou-se um escriba d'Aquele que diz «As Necessidades sou Eu», pedindo-lhe que o orientasse na redacção de textos para a turba diplomática e para a plebe curiosa destas coisas. «Então não sabes o que a turba quer e do que mais gosta?», perguntou Aquele ao escriba que, rojando-se-lhe humildemente aos pés, respondeu com os olhos colados à calçada do Rilvas - «Senhor, dai-me um pouco da Vossa visão para que possa ver bem as palavras que escrevo, pois sem um porção dos Vossos olhos enxertada nos meus, escrevo contra a minha vontade e por certo contra a Vossa». Então, Aquele apiedou-se do escriba e, pousando as mãos sobre a sua cabeça ao mesmo tempo que os polegares lhe esfregavam as pálpebras, disse: «Escriba, que se afaste de ti o demónio da crítica e que do teu espírito saia o espírito do mal que te faz considerar como coisa pública aquilo que só a Mim pertence. Levanta-se e escreve sobre passarinhos!». Ditas estas palavras, o escriba levantou-se e, bendizendo Aquele, começou a procurar uma laje de pedra sobre a qual pudesse escrever com comodidade as palavras com que, a partir daquele momento, se sentia inspirado, ao serviço d'Aquele. E encontrada a laje, o escriba soltou o seu espírito vendo que as suas palavras eram já palavras d'Aquele e não suas. E a turba ficou atónita pelo milagre quando alguém leu tais palavras e que eram: «Os passarinhos tão engraçados, fazem os ninhos com mil cuidados; oh! não os perturbem nos beirais, deixem-nos fazer as necessidades mesmo que sujem os vossos frontais - são pelos filhinhos que vão nascer, que os passarinhos as vão fazer.» Ouviu-se então uma calorosa salva de palmas no Terceiro Andar, pelo que o bom fariseu Calhandro segredou ao ouvido d'Aquele: «Que grande milagre operaste! Assim, sim! Crónicas assim é que salvam o nosso Povo!» E satisfeitos, todos foram dando vivas até à Cozinha Velha onde, a expensas de um rico homem, a laje foi colocada à disposição dos escribas. E antes de dispersarem, Aquele ainda disse: «Crónicas destas serão abençoadas pelos séculos dos séculos porque são a mais pura liberdade. Em verdade, em verdade vos digo, este é o evangelho oficial.»
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
22 abril 2006
Fragmento da Cozinha Velha. Evangelho Oficial
Modelo. Em verdade, em verdade vos digo: um certo dia, acercou-se um escriba d'Aquele que diz «As Necessidades sou Eu», pedindo-lhe que o orientasse na redacção de textos para a turba diplomática e para a plebe curiosa destas coisas. «Então não sabes o que a turba quer e do que mais gosta?», perguntou Aquele ao escriba que, rojando-se-lhe humildemente aos pés, respondeu com os olhos colados à calçada do Rilvas - «Senhor, dai-me um pouco da Vossa visão para que possa ver bem as palavras que escrevo, pois sem um porção dos Vossos olhos enxertada nos meus, escrevo contra a minha vontade e por certo contra a Vossa». Então, Aquele apiedou-se do escriba e, pousando as mãos sobre a sua cabeça ao mesmo tempo que os polegares lhe esfregavam as pálpebras, disse: «Escriba, que se afaste de ti o demónio da crítica e que do teu espírito saia o espírito do mal que te faz considerar como coisa pública aquilo que só a Mim pertence. Levanta-se e escreve sobre passarinhos!». Ditas estas palavras, o escriba levantou-se e, bendizendo Aquele, começou a procurar uma laje de pedra sobre a qual pudesse escrever com comodidade as palavras com que, a partir daquele momento, se sentia inspirado, ao serviço d'Aquele. E encontrada a laje, o escriba soltou o seu espírito vendo que as suas palavras eram já palavras d'Aquele e não suas. E a turba ficou atónita pelo milagre quando alguém leu tais palavras e que eram: «Os passarinhos tão engraçados, fazem os ninhos com mil cuidados; oh! não os perturbem nos beirais, deixem-nos fazer as necessidades mesmo que sujem os vossos frontais - são pelos filhinhos que vão nascer, que os passarinhos as vão fazer.» Ouviu-se então uma calorosa salva de palmas no Terceiro Andar, pelo que o bom fariseu Calhandro segredou ao ouvido d'Aquele: «Que grande milagre operaste! Assim, sim! Crónicas assim é que salvam o nosso Povo!» E satisfeitos, todos foram dando vivas até à Cozinha Velha onde, a expensas de um rico homem, a laje foi colocada à disposição dos escribas. E antes de dispersarem, Aquele ainda disse: «Crónicas destas serão abençoadas pelos séculos dos séculos porque são a mais pura liberdade. Em verdade, em verdade vos digo, este é o evangelho oficial.»
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