Sem rasgo. A visão maniqueísta do conflito no Médio Oriente imperou no Parlamento, designadamente nos partidos que têm à partida a obrigação de ir mais além da conveniência. Para os partidos impelidos por interpretações redutoras, é como se Portugal ficasse de consciência descarregada, se declarasse com firmeza a exigência de um cessar-fogo imediato – para uns ao Hezbollah, para outros a Israel , porque até endereçar tal exigência em simultâneo às duas partes, poria em crise o maniqueísmo de que as bancadas parlamentares não há meio de se livrarem. Por isso, o debate parlamentar foi pobre – pobre naquelas ideias e argumentos que normalmente não só ajudam e até condicionam a formulação de uma política externa como também consolidam a acção diplomática que também precisa de segurança política.
Sugere o debate parlamentar sobre o Médio Oriente que não se passou da doutrina daquela frustrada batalha de Alvalade, entre o pai Diniz e o filho Afonso, em que lanças, montantes e pendões se abateram, de um e de outro lado, com toda a peonagem a ajoelhar-se no terreno, quando, montada na sua pequena mula branca, surgiu entre as duas facções prestes a digladiarem-se, a inefável e majestosa rainha D. Isabel… A avaliar o que foi dito e pegando na metáfora por uma só perspectiva (haveria mais), pensarão alguns que bastaria Portugal condenar Israel exigindo a Televive o imediato cessar-fogo, para que as milícias libanesas e não libanesas do outro lado se ajoelhassem rendidas à passagem de alguma insignificante e inesperada mula que também não dizem qual será ou possa ser. Como se a questão fosse a do mal exclusivamente estar num lado – o do Afonso do Hezbollah, suspeitoso do meio-irmão bastardo - e o bem no outro – o lado do Diniz de Telavive, pai do legítimo e do bastardo - , faltando, pois, a mula e uma figura milagrosa que a monte.
E foi assim: os deputados falaram da crise do Líbano como se a complexa questão do Médio Oriente ficasse resolvida tal como na contenda do campo de Alvalade de 1325, bastando condenar antes para que a mula surja depois, ou pôr condições à mula ou à definição final da mula... Nem vale a pena desenvolver outras perspectivas da metáfora - daria para todos. Foi um debate pobre, foram visões domésticas e fechadas da política internacional, próprias de quem está contra porque tem que estar contra, ou a favor porque tem que estar a favor por obrigação ou conveniência. Não houve rasgo, como, de resto, a iniciativa de Luís Amado junto da UE faria supôr.
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