Pelos próprios pés. Luís Filipe Marques Amado regressa ao Palácio das Necessidades sem o labéu de ser ministro por interposta pessoa, labéu que, mesmo que não fosse verdade, o acompanharia se em vez de ter posto o ombro no andor do actual Governo como Ministro da Defesa, tivesse sido o inicial Ministro dos Negócios Estrangeiros como chegou a ser sugerido até pelas funções que desempenhava no seu partido (Secretário Nacional para as Relações Internacionais do PS e, por isso mesmo, um dos vice-presidentes do Partido Socialista Europeu).
Como Ministro da Defesa, Luís Amado fez um caminho próprio, deixou cultivada uma postura de dignidade mesmo nas situações de fogo cruzado, a sua discrição não beliscou a frontalidade, tanto nas aparições públicas como no cumprimento da agenda furtiva foi de uma correcção reconhecida, jamais cedeu à tentação de confundir o País com a parada (como amiúde acontecera com o seu antecessor Portas) e, pelo menos até agora, a virtude da transparência que já era seu timbre nos tempos de secretário de Estado de Jaime Gama, assenta-lhe que nem uma luva.
Conhece o Palácio das Necessidades, sabe onde a máquina diplomática tem o coração e sabe também onde a mesma máquina tem as mazelas. Aliás, Luís Amado juntamente com Seixas da Costa formaram as duas alas mais credíveis da gestão Gama que se tornou saudosa com tudo o que depois tem deslizado por aquele cadeirão das Necessidades.
Por tudo isso, a transferência da Defesa para os Negócios Estrangeiros foi uma transferência lógica, sem polémica de maior e a provocar até sadias expectativas. Luís Amado, pelo que dele se conhece, não pactua com fanfarronices e com primas-donas, é um decisor frio por calculado culto do rigor e gosta que a eficácia esteja de plantão à porta do gabinete que ocupe. Sobretudo, é um homem sério e leal.
Por enquanto, ainda não se sabe se Sócrates o irá graduar como Ministro de Estado, mas ele já é de Estado - tem a atitude que não depende do ter ou não ter título.
Posto isto, aguardemos os factos, as decisões, as escolhas, as iniciativas, as políticas de Luís Amado. Para o escrutínio de tudo isso, naturalmente que Notas Verbais continuarão pelo trilho da independência de espírito. Sem desvio. Aqui estamos.
Carlos Albino
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