23 julho 2006

O que ficou da semana. Refundar o Camões e o assumir «problemas sérios» no MNE

Pois registe-se. Naturalmente que não é novidade nem traduz alteração de política, Luís Amado ter sublinhado, esta semana, perante a Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros e comunidades Portuguesas, que são prioridades para a chancelaria portuguesa a presidência da UE, a questão africana e o ensino da língua no estrangeiro… É matéria que está no Programa de Governo e que se ouve há muito. Também, para quem conhece o ministro e se recorda da sua antiga mas discreta actuação como secretário de Estado, igualmente não será novidade, mas já traduz alguma diferença de tom relativamente ao antecessor, defender que a política portuguesa para África não se deve esgotar nos cinco países parceiros de língua, portanto haver uma política para a África possível e viável.

Novidade, novidade, não apenas no tom mas também no timbre, foi a clareza com que o Ministro se referiu ao Instituto Camões, enunciando que este departamento «precisa de ser refundado». Ora, refundar, é começar tudo de novo, repensar tudo de alto a baixo, mudar o quadro, escrutinar os alicerces e recolocar dignidade política no edifício onde a diplomacia cultural seve ser produzida o que não significa produzir apenas «eventos».

Novidade ainda, foi a maneira como Luís Amado se referiu aos problemas específicos do MNE, do MNE como departamento vital do Estado, ao diagnosticar «problemas sérios» decorrentes da falta de organização, falta de pessoal, falta de funcionamento por objectivos e excesso de rotina a atulhar a actividade diplomática e consular.

O curioso é que quando se falava a Freitas do Amaral dos «problemas sérios», ele via nisso um ataque à sua competência; quando se falava da falta de organização, ele via nisso apenas propósitos de descredibilização da sua acção ou das delegações de poderes e competências que acabaram por atropelar em contramão, por exemplo, a reestruturação da rede consular; quando se falava da falta de pessoal, ele, ou sempre algum delegado por ele, via nisso desconfiança nos favoritos; quando se falava na falta de objectivos, ele, ou sempre favorecido por ele, via nisso apenas intriga e quando se falava no excesso de rotina, ele ou sempre intrigado por ele, via nisso apenas politiquice. E por ter visto assim, foi o seu infortúnio político.

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