11 outubro 2006

Briefing. Das agendas a Ban Ki-moon, futuro lusófono...

Briefing. Desculpem o atraso mas não será mau repetir: «A política externa é a diplomacia cá de dentro», como dizia o outro.

1 – Agendas
2 – Pena de Morte
3 – Coreia do Norte
4 – Sampaio/Paris
5 – António Braga/Luanda
6 – Amado-Cravinho/Brazaville
7 – Manuel Lobo Antunes/Berlim
8 – Médio Oriente
9 – Madagascar
10 – Costa do Marfim
11 – Ban Ki-moon/Português

1 – (Como vamos de agendas – PR, AR, PM, MNE…?) – As agendas, à excepção nada honrosa do MNE, estão melhor, bastante melhor. A de Cavaco é a mais completa para o dia-a-dia, a de Gama é a mais funcional com rápido acesso aos dias da semana em curso, a do Governo é a que mais direitos de autor deve pagar aos diversos ministérios e também a mais labiríntica. As agendas de LA, MLA, JGC e AB, essas é que, no MNE, actualizam constantemente a infantil adivinha do branco é, galinha o põe – dentro da casca, para compensar o amarelo da gema, há de vez em quando umas claras notas de imprensa que, obviamente, não salvam o conceito de agenda, a função da agenda e a dignidade de uma Agenda de Estado, até porque a agenda central de uma chancelaria não deve ser a respectiva diplomacia vendo-se ao espelho mas sim o espelho da dita. E o espelho da nossa, galinha o põe – a agenda de Amado, actualizada hoje dia 11, é assim. Talvez por falta de chama de porta-voz na gema.

2 – (Está marcado para Paris, de 1 a 3 de Fevereiro próximo, o terceiro congresso mundial contra a pena de morte. Haverá alguma inciativa para uma participação portuguesa?) – Até à data desconhecemos, mas é bem possível que mais perto desse acontecimento haja pedidos de subsídios para viagens.

3 – (Qual a posição portuguesa relativamente ao quadro de sanções contra a Coreia do Norte?) – Como sabem, Portugal não desmente expectativas de uma candidatura ao Conselho de Segurança em 2010, ainda estamos longe dessa data para nos pronunciarmos sobre matéria complicada e aguardamos a posição comum da UE. Além disso, a experiência nuclear norte-coreana, a avaliar a sagesa de alguns comentaristas portugueses, teve o efeito positivo de abafar outro temas importantíssimos da política mundial, designadamente a designação do sul-coreano Ban Ki-moon para Secretário Geral da ONU… A nossa sagesa doméstica não passa da chuva ácida.

4 – (Jorge Sampaio, enviado especial da ONU para o Combate à Tuberculose, esteve ontem em Paris. Sabe para quê?) – Sampaio, a rigor, não é enviado especial da ONU mas enviado especial do Secretário Geral da ONU. Ao que sabemos, ele participou numa conferência de Imprensa ao lado do chefe da diplomacia francesa, Philippe Douste-Blazy e do vice-presidente da Coligação Mundial dos Empresários contra a Sida, Bertrand Collomb, organização que promoveu um encontro de alto nível na capital francesa. Claro que a agenda do MNE poderia e deveria ter registado…

5 – (António Braga está em Luanda. Algum comentário? – Sim, António Braga, acompanhado pelo director-geral dos Assuntos Consulares, José da Costa Arsénio, está, até sexta-feira na capital angolana. Motivo central, a inauguração das novas instalações do Consulado-Geral onde se aplicaram uns 300 mil euros, com obras a meio-vapor porque as Finanças não viabilizaram o milhão de euros inicialmente prometidos. Mas enfim, estão feitas. António Braga esteve bem e Costa Arsénio deixou rastros de simpatia – as consequências do desterro em Teerão estão ultrapassadas. É verdade que houve pouca comunidade portuguesa, mas houve alguma, o número possível, tendo em conta a miséria de orçamento para estas coisas. Paulo Jorge do MPLA presente, Rui Mingas e mais alguns, muito poucos notáveis, pela mesma razões. Louros justos da recepção couberam ao Cônsul, Pedro Rodrigues da Silva – o resto é conversa. Por hoje e amnhã, SEXA SE tem encontros com o MIREX Miranda e Ministro do Interior, em principio. Já agora, junto dos poucos representantes de empresários ficou a esperança de que António Braga consiga sensibilizar os angolanos para o que a Consulado angolano em Lisboa está a fazer de negativo em matéria de vistos da capital portuguesa para Luanda. E já agora também, o que nesse imbróglio, a ex-directora da DEFA (o SEF de Angola), "Quina" que foi para Lisboa "ajudar à confusão contra os portugueses", num dizer de angolôno e não de portuga. Portanto, aguardam-se os resultados da visiat de SEXA AB, pelo que haveria conveniência de se explicar, bem explicadinho, sobretudo à Camara de Comercio Portugal/Angola o que se ouviu em Luanda em matéria de Vistos de Portugal para Angola.

6 – (O Ministro Luís Amado e o Secretário de Estado João Gomes Cravinho, em Brazzaville. Ida de peso, não foi?) – Como sabem, a realização da cimeira Euro-africana é uma velha aposta de Luís Amado. Só para a concretizar ele aceitaria ser apenas MNE e não tanto MENE! Daí o peso da representação nesta reunião ministerial UE-África, além de Portugal estar com um pé na santíssima trindade em que se converteram a três próximas presidências da UE, com alemães a eslovenos a não terem o coração e carteira em África. As conversas à margem sobre a cimeira terão sido sem dúvida a substância, àparte o resto das conversas diplomáticas sobre reforço do diálogo UE-UA e elaboração de uma Estratégia Conjunta UE-África, facilidade de paz para África e segurança, governação (sempre a boa…), integração regional e comércio, ou ainda as questões-chave do desenvolvimento – temas que, para africanos de aeroporto político e muitos europeus de salão diplomático, são tão banais como o sol por entre os dedos é banal na poesia de Eugénio de Castro.

7 – (E esta de Manuel Lobo Antunes em Berlim, para o trio?) – Trio? Ou santíssima trindade? Mal por mal, ainda assim será melhor trio a troika. O trio sempre sugere música de harmónica de boca. É verdade, Manuel Lobo Antunes em Berlim com homólogos da Alemanha e da Eslovénia. Normal. Temas normais. Previstos e previsíveis, La Palisse dispensado. Aliás, o Conselho de Ministros de Guimarães, segundo deu a conhecer, «estabeleceu os quatro domínios que devem concentrar as acções do Trio de Presidências». Pois que mais domínios para além do futuro político da UE com os desafios do alargamento; do reforço das competências da economia europeia através do desenvolvimento da Estratégia de Lisboa; do aprofundamento das políticas comuns em matéria de liberdades, segurança, justiça e imigração, e do reforço da capacidade para responder aos desafios externos? Andamos com estes domínios há anos e anos e até La Palisse ficou já apático com tais domínios.

8 – (Qual a posição portuguesa sobre a mediação do Qatar entre Palestinianos? Portugal apoia esta iniciativa?) – Desde que no Qatar não haja português apanhado no aeroporto com material estranho à viagem, não vemos como Portugal tenha que se lembrar do Qatar, ou até se temos embaixador no Qtar ou com verba para ir ao Qatar. Não é António Monteiro?

9 – (E qual a posição portuguesa sobre as dificulades que são colocadas no Madagascar ao candidato da oposição, Rajaonarivelo que se encontra aparentemente retido nas Ilhas Maurícias e da Reunião, não lhe sendo permitido entrar no seu país para participar na eleição presidencial?) – Como sabem Madagáscar não manifestou vontade de entrar como membro observador na CPLP, apenas as Ilhas Maurícias o fizeram embora não se perceba ainda bem por que motivo. Rajaonarivelo não é, pois, um caso de lusofonia e Portugal não se mete no assunto, em função do seu quadro próprio de política africana.

10 – (A cimeira da CEDEAO recomendou que o Presidente Gbagbo e o Primeiro Ministro Charles Konan Banny se mantenham no poder durante mais um ano. Há comentários portugueses?) – Santo Deus! António Monteiro há muito que se desligou das sua missão na Costa do Marfim e a Costa do Marfim só interessa quando há um português em missão! A Costa do Marfim deixou de estar na nossa agenda política e diplomática – além de não ser um caso de lusofonia, não cabe no quadro próprio da nossa política africana.

11 – (O mais que certo próximo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, não fala português, está a aprender francês, língua que ainda fala mal e redige pior, o que preocupa muito os franceses e que, por isso e só por isso, estiveram renitentes a dar-lhe apoio. Ora, Portugal não oferece um Dicionário Houaiss, uma gramática portuguesa e um dos guias de bem falar sem pensar de Edite Estrela a Ban Ki-monn?) – Santo Deus e Santos Símbolos Sagrados desde Abraão! "Nous savons que M. Ban Ki Moon prend régulièrement des cours de français et nous continuerons à suivre ses progrès en français", disse ontem mesmo o Quai d'Orsay! Mas, por favor, permitam que o Embaixador João Salgueiro tenha os louros dessa iniciativa a nível de! Ban Ki-moon ainda há-de ser um caso de lusofonia e a forma discreta como o MNE e o Governo se referiram à resolução do Conselho de Segurança, apenas provam a nossa coordenação com a diplomacia de Paris.

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