Briefing. «Há que recear mais alguns portuguesitos do que os Espanhóis, porque esses tais são iguais a todos os espanholitos», assim pensa qualquer pensador vulgar de Lineu.
1 – Amado/Moratinos
2 – Gulbenkian/Interrogações
3 – Vaticano
4 – ONU/Votações/Portugal
5 – Conselho de Sábios
6 - Iberismo
1 – (Luís Amado, amanhã, com Moratinos. Que pasa, hombre?) - No pasa nada. Encontro vulgar de Lineu. Preparação da próxima próxima Cimeira Luso-Espanhola, acertos para a Cimeira Ibero-Americana em Montevideu – Chávez, Cuba, Bolívia… - e, tema caro a LA, o Fórum Mediterrâneo.
(Moratinos vem só? Vem acompanhado?) – Acompanhamento vulgar de Lineu – o encarregado espanhol para UE, Miguel Angel Navarro, o Director-Geral de Política Externa do Palácio de Santa Cruz, Rafael Dezcallar… Tudo Espanhol, ao que consta nenhum espanholito.
2 – (Por um dia destes, vai haver pensamento na Gulbenkian. Comenta?) – Sim. Trata-se de um colóquio de três dias – de 25 a 27 - sob a interrogação geral ‘que valores para este tempo?’ Como sabem, em Portugal, só nos interrogamos quando sabemos tacitamente as respostas. E lá estará Cavaco Silva, na abertura – oxalá que nenhum matutino de lembre de dizer antecipadamente que o PR vai falar de corrupção! E claro, a sempre imprescindível conferência de Eduardo Lourenço. No que nos interessará, há painel sobre o mundo em crise como se alguma vez em algum tempo tivesse deixado de estar, mas, enfim, painel. Em que Patrick Nerhot se vem interrogar sobre o fim do sujeito, Jean Petitot sobre o fim da racionalidade, Jacques Bouveresse sobre o fim da verdade, Hubert Damisch sobre o fim da beleza e Robert Kagan sobre o fim da história. E lá para o fim, dia 27, David Gordon também vem interrogar-se sobre se, na moralização da globalização, haverá obrigação de transferir riqueza, isto depois de John Keane ainda se interrogar se o ideal da democracia é universal… Da lista de palestrantes não consta nenhum teórico português de relações internacionais, de política internacional ou de política externa, um embaixador jubilado que fosse, e compreende-se que assim seja – não há teórico português que não tenha certezas e se interrogue. E então embaixadores jubilados!
3 – (Tem andado muito calado sobre o Vaticano e sobre a diplomacia papal…) – E assim é, seria desprimoroso as NV fazerem concorrência ao Embaixador Rocha Paris que reporta bem. Em todo o caso, dada a vossa curiosidade, damos nota de que o papa no início de Outubro recebeu o Presidente da Áustria, Heinz Fischer, com quem diz estar em sintonia sobre o tema ‘da identidade cultural e espiritual da Europa’. Depois, o mesmo papa recebeu o chefe do Governo Italiano, Romano Prodi, e apenas se disse que foi especialmente abordado o tema do ‘lugar dos valores cristãos no processo da integração europeia’. São nuances de diplomacia papal que variam da Áustria para a Itália. Mas para completar, e longe de nuances, anote-se num outro encontro, há uma escassa semana, desta vez do papa com um dos gémeos polacos, o chefe do Governo, Jaroslaw Kaczynski, a diplomacia papal foi mais precisa ao dar conta de trocas de pontos de vista sobre ‘o processo de integração europeia e a referência às raízes cristãs do Continente’.
(Sugere que com tais nuances, o papa de alguma forma foi alertando para o significado da eventual integração da Turquia?) – Nada disso! A diplomacia papal sabe o que anda a fazer e tanto assim é que Bento XVI aceitou o convite do Presidente turco, Ahmet Necdet Sezer para uma visita ao país com estadias oficiais em Ankara, Éfeso e Istambul, marcada já para 28 de Novembro a 1 de Dezembro. Sabia-se que iria em Novembro mas as datas aqui estão. Lá vai o nosso embaixador Lemos Godinho ter trabalho acrescido…
4 – (No filme Guatemala/Venezuela, qual tem sido o voto português?) – O voto é secreto, estatal e intransmissível, como diria o embaixador João Salgueiro ao seu homólogo norte-americano na ONU, John Bolton. É, pois, um segredo inenarrável de Estado.
(Portanto, não pode narrar…) – Não é de narrar.
5 – (Em Paris, o ministro Philippe Douste-Blazy acaba de criar um Conselho dos Negócios Estrangeiros, a funcionar junto de si para formular pareceres sobre as grandes orientações da política externa francesa e sobre a evolução das organizações e funcionamento da acção externa do Estado. Esta inciativa não influenciará Luís Amado?) – Não vemos que tenha de influenciar. Esse novo conselho do Quai d’Orsay equivale a um 'conselho de sábios', integrando nove diplomatas de alto nível, e visa, em princípio, reforçar a colegialidade das decisões, nada tendo a ver com o Conselho de Ética criado pouco antes e que, com o definido na definição, tem em vista escrutinar as questões de ética da diplomacia francesa. Ora, em Portugal, o PRACE transformou todo o MNE num Conselho de Sábios e igualmente todo o mesmo MNE num Conselho de Ética. Estamos à frente dos franceses.
6 – (Por sondagem em Portugal, mais de dos portugueses serão da opinião que Portugal e Espanha deveriam ser um só país; por sondagem em Espanha 45,7 % dos espanhóis quererão a união entre Portugal e Espanha… É a Ibéria?) – As sondagens, quando passam a brincadeiras de caleidoscópio, divertem e cada vez que se agita a brincadeira, a imagem é diferente. Mas diverte portuguesitos em Portugal e espanholitos em Espanha. O divertimento de portuguesitos e espanholitos está para a Ibéria assim como alguns divertimentos russos estão para a Sibéria. Os caleidoscópios, até pelos nomes, são quase iguais, pois a Ibéria não passa de Sibéria sem S. E ficaríamos por aqui, se não houvesse conhecimento de uma outra sondagem reportada por Le Monde, segundo a qual 22 % dos Britânicos quererão ser franceses… caso sem dúvida mais grave do que a subtracção de um simples S à Sibéria…
(Está a falar a sério?) – Naturalmente que estamos a agitar apenas o caleidoscópio. A Espanha tem problemas, uns mais graves, outros menos graves, que estão a ser geridos pelas partes como num jogo entre gato e rato. Catalunha, País Basco e outros que não pespontam mais porque os outros não querem por enquanto ou não podem pespontar mais, para não se falar de Gibraltar e das possessões em Marrocos. Portugal não tem tais problemas e até os problemas que poderia levantar, designadamente de fronteiras e de direitos históricos, esquece-os ou pelo menos não os coloca na agenda diplomática por uma espécie de deferência temerosa. Como brincadeira, tolera-se brincar com o caleidoscópio, até porque diverte portuguesitos e espanholitos, como inglesitos e francesitos se divertem nesse agitar do tubo. E será aconselhável não agitar muito o tubo para não acordar os fantasmas. A História prova que nenhum Estado está imune a fantasmas.
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