20 outubro 2006

Briefing. Temos Ministro! Há elogios que parecem um paradoxo

Briefing. Desta vez, Victor Hugo basta: «Há pessoas que observam as regras da honra como se vêem as estrelas: de longe».

1 – Amado
2 - Estrelas

(Declaração Prévia: Meus senhores, minhas senhoras, hoje apenas falaremos de Luís Amado. Guardem as vossas perguntas para mais tarde, que nós também saberemos guardar as respostas.)

1 – (Luís Amado? Há incomodidade?) – Nada disso. Não vos escondo que retardámos palavras sobre o Ministro, designadamente sobre a sua prestação na Comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros, porque, até parece um paradoxo mas não é, temos muitíssimo mais dificuldade em fazer um elogio formal, do que em executar famas em alguma das guilhotinas da crítica brumária cujas lâminas têm sempre ferrugem, mesmo que o carrasco seja um anjo ferreiro.

(Diga esse elogio.) – Digo. Luís Amado respondeu aos deputados sem rabiscos de ementa e sem recurso a actas de reuniões informais - apenas ferreiros fazem actas de reuniões informais porque as reuniões informais são informais precisamente para não haver acta.

(Mas vá à questão e deixe os ferreiros!) – Vou à questão. Independentemente do argumentário estritamente político com que Luís Amado retorquiu a Fernando Rosas e a Jorge Machado, e da forma hábil como salvaguardou a honestíssima crítica brumária de Ana Gomes que, aliás está sempre bem nos dias 18, o ministro disse algo que raros, talvez nenhum governante destes, foi ou tem sido capaz de dizer assumindo responsabiências e consequlabidades…

(Responsabiências e consequlidades…? Essa é nova!) – A diplomacia é também arte de fazer palavras novas, melhor dito, arte de trocar metades de palavras.

(Brrr!!! Não seja ferreiro, vá à questão). Vamos. Luís Amado, ao dizer cara a cara, a Fernando Rosas “Eu quero é ser julgado por ter tido, enquanto membro do Governo português, alguma cumplicidade ou conivência com uma ilegalidade cometida em território português» e logo a seguir “Se me provar isso, eu demito-me no dia seguinte”, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que o é depois de ter sido Ministro da Defesa e não um ressabiado qualquer, deu provas de total verticalidade, elevação de espírito e dignidade política. Assumiu, não andou com evasivas, com notas de ementa, com espúrias alegações de segredos de Estado. É destes desafios que a Democracia gosta, usando um dos poucos refrães que se salvam do pensamento nacional do Futebol, ou, por outras palavras, Senhor dai olhos a quem não vê, usando um dos poucos refrães que se salvam do pensamento nacional de Fátima. A resposta, obviamente, não foi apenas ou só para Fernando Rosas que, como se sabe, até acreditaria em Fátima se a senhora lhe aparecesse a fumar cachimbo. A resposta foi para o País que, se quis e teve tempo, ficou a saber que há um Ministro que não tem nada a esconder nas questões de Estado, e que não está na Política como quem deambula pelas barracas do Mercado da Praça de Espanha.

(Por Fernando Rosas! Para não dizer por Santo Deus! Onde isso já vai! O que é que o Mercado da Praça de Espanha tem a ver com os voos da CIA?) – Seria muito mais fácil a Luís Amado descartar-se com Condoleezza Rice, que esta tinha enganado Portugal ao almoço, que, coitadinhos de nós, nascemos para ser enganados ao jantar, e que, portanto, a nossa Diplomacia e a nossa Política Externa apenas dão por enganos depois de enganadas e tarde, ao pequeno almoço do dia seguinte. Aliás, Luís Amado deu claramente a entender que descartes desses apenas têm em vista prejudicar os exercícios para tornar a Verdade evidente, e para fazer da Política a prevenção e cura de enganos em sede própria e adequada. "Não temos nada de que nos envergonharmos nesta matéria (de voos da CIA", é algo que aqueles que são amiúde enganados no Mercado da Praça de Espanha não podem dizer, depois de terem comprado um transístor falsificado a Condoleezza Rice. Quem vai lá, tem que estar preparado, depois, não se queixe - as queixas só produzem burburinho maior no mercado.

(Mas quanto a factos, Luís Amado nem um! Considera isso razoável?) – Razoável, meu caro Sheep Ram! Razoável! O ministro ao revelar que, sobre o assunto dos voos, estão terminadas as investigações pelos vários serviços secretos e toda a informação recolhida vai ser transmitida à comissão eventual do Parlamento Europeu, está, por ora, a dizer o que é relevante para Carlos Coelho, colocando as coisas nos respectivos lugares – o mercado na Praça de Espanha, e as informações no PE onde as coisas piam mais fino, meu caro Sheep Ram.

(E não comenta o que Jorge Machado, do PCP, também mastigou a seco?) .- Ora aí está! Alguns deputados, em matéria de política internacional e política externa, e na própria Comissão de Negócios Estrangeiros, por justificada distracção de exercício e não por má-fé, sublinhe-se, parece que desejarão deputar e delegar a secção portuguesa da Amnistia Internacional. Vale a pena reproduzir a resposta do ministro a Jorge Machado: ‘Pensa que tenho alguma dúvida sobre a resposta securitária de alguns países alvos de atentados terroristas e nomeadamente os EUA? Não!’. E com este ‘Não!’ silenciou a secção.

(Até rima! Essa até dá manchete – Com este Não, silenciou a secção! ) – As manchetes são da vossa responsabilidade.

(Outra questão – Ana Gomes. Será mesmo a Jessica do PS?) – devemos ser benevolentes para com Henrique Freitas, do PSD, que não escapa à pedagogia nacional do Futebol… Se uns 90 minutos de Hilário justificam uma página, duas páginas!, a fazê-lo herói britânico, como é que não se há-de perdoar Henrique de Freitas a redigir social, em antecipação ao que o social possa redigir dele no dia seguinte? É claro que o PSD também tem as suas jessicas, algumas bem protegidas ou pelo menos cujo protectorado foi implorado, portanto adormecidas. Não entremos por aí porque as histórias de protectorados, por regra, resultam em colónias.

(Entre nos protectorados!) – Não entramos.

(Tem medo?) – Não tememos. As jessicas sabem que não as tememos.

(Por favor, não derive. Ana Gomes... comente Ana Gomes) – Comentar Ana Gomes, a que propósito? O que estava em causa na comissão parlamentar eram os voos da CIA e não os voos de Ana Gomes. Até nisso, o ministro foi Ministro ao responder a Henrique Freitas sobre o que, em estilo de mercado sem licença camarária na Palhavã, disse de Ana Gomes. Querem que vos recorde exactamente o que Luís Amado respondeu? Anotem: ‘Honra lhe seja feita (a Ana Gomes), pois assumiu este trabalho de investigação e está a colocar questões pertinentes que Vossas Excelências parasitam e a que apenas juntam nuvens de fumo em abstracto’.

(Boa manchete! Vou já telefonar ao chefe!) – Mas que manchete?

(Essa é muito boa – Vossas Excelências parasitam! – Que boa manchete!) – A manchete é vossa. Meus senhores, Minhas senhoras, dou por terminado este briefing. Boa tarde!

2 – (Desculpe, desculpe... apenas uma questão. Porque é que hoje cita Victor Hugo?) – Como sabem, as nossas habituais citações são para Portugueses e não para portuguesitos. E como Fernando Rosas, Jorge Machado e Henrique Freitas são Portugueses e viram Luís Amado de perto, é bom que se lhes recorde um bom e oportuno voo a Victor Hugo, com essa de que há pessoas que observam as regras da honra como se vêem as estrelas: de longe.

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