"Estranho país este que numa distância de cento e poucos quilómetros, consegue mostrar o ser melhor e o seu lado mais triste – de Bruxelas a Stramproy
É que entre os bungalaws onde uma centena de portugueses passa fome e as moderníssimas instalaçoes do novo Berlaymont onde diariamente trabalha José Manuel Barroso - orgulho de muitos dos seus compatriotas por representar, neste inicio do Século XXI, a capacidade dos lusitanos em assumirem posições de destaque na cena politica internacional, são cem quilómetros em linha recta – quase o mesmo que de Lisboa a Alcobaça e menos que do Porto ao Buçaco.
Diariamente, o Presidente JMB recebe altas personalidades europeias e mundiais e anda num frenético vaivém entre aeroportos e hotéis, salas de conferência e estúdios de televisão a fazer passar a boa nova europeia, boa nova daquele espaço outrora saído da imaginação de Jean Monnet e ao qual Jacques Delors soube dar conteúdo e forma.
Quem não conhece hoje em dia, por essa Europa fora, a acção do Presidente JMB e a sua posição no quadro das instituições que regem a actividade da União Europeia?
Um legitimo sentimento de orgulho assalta diariamente milhares de portugueses sobretudo aqueles que há muito emigrados na Europa, onde foram espezinhados, maltratados e enxovalhados, vêem hoje um dos seus ver publicamente reconhecidos nos seus méritos próprios longe dos chantiers da construção civil ou dos escaliers des conciergeries parisienses.
Quem acordasse de um longo sono ficaria, decerto, com a impressão que Portugal mudou e os portugueses também, e que para traz estariam os tristes anos da ditadura ou do inicio da nossa emigração para os países europeus.
Só que o acordar acaba por ser rápido e até doloroso com o percorrer daqueles tais 100 quilómetros, e chegar a uma minúscula localidade no sul da Holanda e aí constatar que em Stramproy há dezenas de compatriotas do Sr. Presidente da Comissão Europeia a passar fome. E que, mais acima, na zona de Roterdão, muitos pedem esmola nas ruas ou dormem nas estações de caminho de ferro, ou que, ainda mais acima, mesmo lá em cima, em Den Hélder, há portugueses que roubam pão e batata nos supermercados para matar a mesma fome e que há mulheres que são forçadas a prostituírem-se para terem dinheiro para comer.
Esta é talvez a mais dura das realidades. Esta é infelizmente a mais triste das verdades.
Portugal país de contrastes donde vem um povo que aprendeu a sofrer e que vive com o sofrimento como se este estivesse indissociado da sua própria essência.
Há dias, em que não há cara para aguentar tanta desgraça!
Obrigado NV porque foi com NV possível dar voz e até um nadinha de dignidade a várias centenas de esquecidos do tal país dos contrastes.
Chamfort
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
12 novembro 2006
Dos Notadores. "Portugal e seus contrastes"
Mensagem de longe. De "Chamfort", diplomata agora quase nos antípodas mas que reclama conhecer portugueses na Europa e Europa dos portugueses:
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