Luís Amado, e bem, tem andado desde ontem e vai andar até Quarta-feira, por zonas-chave do Norte de África (Argélia) e do Médio Oriente (Isarel e Líbano). Além do pormenor de, em Argel, tratar da preparação da primeira Cimeira luso-argelina prevista para Janeiro, pode-se dizer que o ministro anda ao serviço da Europa, com a discrição por que se pauta. Não embandeira em arco e faz bem, porque o simples andar pelo Norte de África ou o ir ao Médio Oriente não é um resultado político, é a apenas a procura de resultados. E faz bem em preparar já o que se prevê para a metade final de 2007, por certo e em função da movimentação diplomática recente, em sintonia/UE com a Alemanha.
Amado é um declarado defensor de uma Europa com voz forte na questão do Médio Oriente, o que não significa que essa Europa tenha ou deva ser uma soprano de ópera ou um contrabaixo de banheira. A voz da Europa, para ser forte, tem que seguir uma partitura e não estar desfasada da orquestra dos 25, para o que, intérpretes e instrumentistas deverão seguir com atenção a batuta do maestro passada como testemunha na estafeta das presidências. A metáfora é válida porque, até agora, a Europa dos 25, em matéria de Médio Oriente e política mediterrânica, tem dado o triste espectáculo de orquestra desafinada, com instrumentistas a improvisar cada um à sua maneira e com alguns cantores incorrigíveis nas fífias políticas e diplomáticas, civilizadamente abafados com doutrinários mas pouco convincentes coros finais.
Ora essa reclamada voz da Europa não pode obviamente ser apenas a voz de três potências do Mediterrâneo (para mais, com a Itália, França e Espanha a disputarem entre si, nos camarins, os papéis de soprano, tenor e contrabaixo), porque o Mediterrâneo tem mais potências dentro da EU e fora da EU, como são os casos da Grécia e da Turquia, havendo mais cantores, intérpretes aparentemente secundários é certo, mas imprescindíveis para a harmonia geral, nem que tenham apenas uma entrada com um simples regurgitar no meio da ária da grande soprano.
Claro que não se põe em causa a legitimidade de cada um dos 25 Estados da EU , da Finlândia lá no cimo a Portugal cá em baixo, em apresentar uma proposta de solução para o Médio Oriente. O que é duvidosa é a compita entre diplomacias que, à margem da presidência que está e pelo menos também da presidência que vem, impede aquela estafada «uma só voz» da União, como duvidosa é formação de grupos de pressão com parcelas dos 25 que diluem o carácter de ideia forte e firme com que uma posição europeia se devia apresentar.
Com a Itália, já de Prodi, que na Comissão nunca soube disfarçar moleza e falta de golpe de asa para líder europeu, foi o que se viu com a Conferência Internacional do final de Julho – terminou sem consenso, e a UE saiu como entrou no papel de convidada e como parte.
Em Setembro, seguiu-se Chrirac a anunciar unilateralmente, nas Nações Unidas, que a França estava ou iria preparar um plano francês, uma solução francesa que não terá recebido algumas ovações esperadas ou inesperadas.
Depois, foi a vez da Espanha que, sem referência à anterior ideia de Chirac, cavalgou para a autoria de um formato espanhol e de uma proposta de solução espanhola semelhante ao de anos atrás, quando as circunstâncias e protagonistas no Médio Oriente - que é a questão - eram completamente diferentes das de hoje.
Em vários actos,Moratinos prometeu para a reunião de Alicante a apresentação dessa proposta espanhola repetidamente atribuida ao moinha da diplomacia espanhola, mas cedo se percebeu que a Espanha, soprando sozinha, de resto como quixotescamente gosta, não conseguiria fazer rodar as mós, abrindo-se um parênteses, um intervalo entre actos. A este parênteses não foi alheio o alegado amuo da diplomacia francesa que, para dar disso sinal, fez desgraduar a sua representação na reunião ministerial de Lagossini (Grécia), antes do fórum de Alicante. A Espanha, então, terá sentido a urgência de refazer a partitura, e eis que escolheu convenientemente protagonistas do Mare Nostrum do que, em comum, pudessem invocar a qualidade de potências. Espanha, França e Itália surgem assim juntos a subscrever a proposta de solução a ser apresentada no Conselho Europeu de Dezembro, designando-se a proposta, para efeitos mediáticos, como «trilateral», mas sem se explicar bem se é proposta espanhola apoiada pela França e Itália como nos abaixo-assinados, se é espanhola casada com proposta francesa, ou se à Itália cabe um terço ou simples cláusula para continuar a ser ópera trilateral, todavia esvaziando o papel da presidência finlandesa ou, melhor, da figura da Presidência da UE que, nas intervenções feitas em seu nome nas Nações Unidas apareceu reduzida à função de carpinteiro de palco, enquanto nas demais exibições pouco mais tem sido do que figurante. Ora, uma presidência não é um secretariado-geral, nem um Conselho é uma sala de ensaio, e mal estará a tal voz forte da União, se os por agora 25 se subdividirem em trilaterais ou trios de ópera, a propósito do Médio Oriente ou de outro tema (há outros e também potencialmente dramáticos) sobrando desses 8x3 sempre um, o cantor castrado.
Se a Espanha tinha uma proposta, não se percebe porque não fez a trilateral com a Finlândia da presidência e com a Alemanha que se lhe segue, na discrição que se lhe impunha para garantir a voz forte da UE.
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