07 novembro 2006

O Boletim de Informação Diplomática. O MNE vai nisto?

Opta-se pela ironia. Todos os dias, o Boletim de Informação Diplomática, quando chega às poltronas dos embaixadores de Portugal, às cadeiras de braços dos cônsules-gerais e aos olhos humedecidos por saudades pátrias dos demais diplomatas, repete em pé de página e naquela minúscula letra feita à medida da testa curta das mensagens de Estado em corpo-cinco-itálico, o seguinte descritivo que até devia ser verdade:

«O Boletim de Informação Diplomática (BID) pretende complementar o quadro da informação devida aos serviços externos por parte do MNE, contribuindo com uma síntese quotidiana da actualidade noticiosa nacional e estrangeira considerada relevante para a acção dos agentes diplomáticos portugueses em posto, não excluindo a reprodução de declarações, oficial e publicamente prestadas, consideradas úteis para o mesmo efeito.»

Seria de esperar que, em cumprimento deste preceito, o BID, não querendo voltar a ser uma múmia de Ramsés como já foi, ou não querendo nem devendo ser o alfaiate predilecto do faraó que era também o seu prestamista, chegasse hoje aos postos diplomáticos e consulares com a respeitabilidade física correspondente à daquela moça que mora no Largo do Rilvas, e é vista com recato, mesmo à noite, quando, depois de descer a calçada esconsa, opta, ruborizada, pela Entrada do Protocolo - moça que, segundo dizem, se chama Diplomacia.

Ontem, no entanto, o boletim perdeu a cabeça e com isso faltou ao respeito pela moça - mais grave, se não lhe cuspiu na cara, escarrou para o corpo cinco do pé de página, que é o mesmo que colocar a imunidade em itálico.

É que o BID de ontem, ao dar conta da actualidade noticiosa nacional considerada relevante para a acção dos agentes diplomáticos portugueses em posto, como jurou à devota moça fazer vida fora, por entre tantas novidades que até à múmia do Ramsés provocariam cataratas, para não falar de inevitável neurose obsessivo-compulsiva no alfaiate, pois ontem o BID muniu todos os diplomatas portugueses, do embaixador ao secretário estreante, com o relevante título do 24 Horas - «SIC proíbe ex-namorada de Dino de se despir numa revista de homens» !

Ora, mal do embaixador que, em Pequim se ache desprovido da actualidade noticiosa relevante para a sua acção como o BID proporciona, e fosse surpreendido no meio de intensas conversações com o MNE chinês Li Zhaoxing a perguntar-lhe - «Então no seu país, a ex-namorada de Dino foi proibida de se despir numa revista de homens?» Claro que o embaixador balbuciaria um creio que sim, ou oh! coisa de somenos ou ainda por deferência um 也有利于国际社会化解矛盾, em bom mandarim. Se não fosse o BID, Li Zhaoxing notaria imediatamente a indisfarçável ignorância de Santana Carlos sobre a actualidade noticiosa nacional considerada relevante para a acção dos agentes diplomáticos portugueses.

E em Islamabad? Sim em Islamabad! Se não fosse o BID a dar conhecimento de tão flagrante violação dos direitos humanos, com que cara ficaria António Ortigão, respaldado no seu gabinete do N.º 66 da Main Margalla Road, se, ignorando por completo a reprodução de declarações, oficial e publicamente prestadas, consideradas úteis para o mesmo efeito da moça do Rilvas, recebesse um telefonema do MNE paquistanês Makhdum Khusro Bakhtyar ávido de pormenores sobre porque razão em Portugal se proibiu a Diplomacia de se despir numa revista de homens? Se não fosse o BID, António Ortigão estaria impossibilitado de esclarecer o equívoco – que não, não foi a Diplomacia, mas outra moça, a ex-do Dino. E Bakhtyar: Bin? Bin what? Ortigão, à falta de urdu: Dino! Dino! Bin no! There is Dino!

Então no Vaticano! O embaixador Rocha Páris, que alvoroço! Ainda bem que o BID o informou a tempo! Já a Guarda Suíça se preparava para entrar num avião da Luxor sob o comando do próprio Colonnello Elmar Th. Mäder para levar a moça em voo secreto, eis que o embaixador português gritou: Alto aí, Guardia Svizzera! Alto Colonnello! E mostrou o BID ao Colonnello Elmar Th. Mäder, para este se certificar de que quem se prestava a despir numa revista de homens, que até poderia ocorrer em revista da guarda, não era a Diplomacia portuguesa, mas santa antiga do Dino, ex-santa ou ex-Dino, Rocha Páris não tinha instruções para precisar, e que a proibição de se despir, estando no quadro da informação devida aos serviços externos por parte do MNE, mais não era do que a recolocação da dignidade numa filha de Eva. «Ok!», anuiu o Colonnello Elmar Th. Mäder, em posição de firme sentido para o embaixador Rocha Páris que, com santa paciência, teve que escrever o que o colonnello lhe ditou, com destino às Necessidades: «Il nostro mandato è in effetti tradizionale: dal 1506 proteggiamo il Pontefice e la sua residenza e in quanto a ciò nulla è cambiato. Le modifiche apportate riguardano i metodi di adempimento del servizio e le persone, le guardie che sono chiamate a svolgerlo e, con loro, l’ambiente nel quale si muovono». Rocha Páris já não ouviu mas o conselheiro eclesiástico percebeu que uma moça despir-se em Lisboa para uma revista de homens seria o mesmo que despir o BID na revista da Guarda Suíça. O incidente ficou pois resolvido pela pronta acção do agentes diplomático português em posto, graças ao próprio BID.

Não se conta exaustivamente o que aconteceu em Havana, mal o BID lá chegou. Andando o irmão distraído, como sempre e como todos na cimeira ibero-americana, aí, foi Fidel Castro em pessoa a procurar o embaixador Mário Godinho de Matos, preocupado com a hipótese da revista de homens para a qual a moça, a outra, se queria despir, estar em conexão com anti-castristas, sabendo ele, através dos serviços secretos que põem tudo a nu, que, pelo facto do BID considerar isso relevante para a acção dos agentes diplomáticos portugueses em posto, por esse simples facto, a moça, a outra que não a mesma, seria um potencial perigo. Fidel, que lê o BID como prova de convalescença e muito especialmente tudo o que no boletim se refira a revista de homens, terá dito ao embaixador Godinho de Matos, temer muito mais de que a moça se dispa, a reprodução de declarações, oficial e publicamente prestadas, seja qual for a moça, e consideradas como úteis para o mesmo efeito.

Bem, paremos por aqui este entretém, porque a sério, muito a sério, com o BID a cultivar neste tom em nome da moça protocolarmente séria(no resto só muda de moça e de Dino), a síntese quotidiana da actualidade noticiosa nacional e estrangeira considerada relevante para a acção dos agentes diplomáticos portugueses em posto, não excluindo a reprodução de declarações, oficial e publicamente prestadas, pois o BID, um dia destes, ainda faz da moça, a outra, que não a mesma, uma embaixadora da boa vontade. E será de vê-la, a entrar pelo Vaticano adentro para a revista da Guarda Suíça, ou em Pequim a 也有利于国际社会化解矛盾 que não sabemos o que é mas é isso mesmo.

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