08 dezembro 2006

Sócrates e UE/Turquia. Mas a questão é moral, de honestidade?

Conceitos. José Sócrates convidou o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, a visitar Portugal no próximo ano, para discutir as negociações com vista à adesão da Turquia à União Europeia, e, por certo, terá convidado também a agência noticiosa Lusa a divulgar a missiva endereçada para Ankara – é claro que a Lusa fez bem e fez o que tinha a fazer, mas este mau, péssimo hábito português dos gabinetes não divulgarem directa, oficialmente, com segurança e rigor as actos que praticam e as iniciativas que tomam em nome do Estado, é uma conveniência que vem de longe e ampara filtragens). Mas estas são considerações secundárias, para o caso. Principal é que, para efeitos de UE e no quadro da trindade presidencial, Portugal está em melhores condições do que a Alemanha e Eslovénia (com esta seria tarde, além do mais) para diálogo com Ergodan – se houver Ergodan. Não é propriamente um rasgo português, mas uma conveniência certamente acordada e que está correcta.

Todavia, com evidente moralismo, disse Sócrates que Portugal sempre defendeu e continua a defender a defender «negociações claras e honestas das duas partes». Mas as negociações não têm sido claras e honestas? Onde está a falta de clareza e, sobretudo a falta de honestidade da UE e da Turquia ? Uma parte não tem dito à outra com clareza o que quer e exige com honestidade ?

É tempo de Sócrates rever vocabulário e conceitos. A confusão do plano moral com o plano político pode surtir efeitos na política interna, mas duvida-se que assim aconteça nas relações internacionais. Não é que em negociações a moral fique à porta, mas negociações apenas existem com clareza e honestidade assumidas como dados adquiridos.

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