A reestruturação consular:
quo vadis António Braga?
Percebe-se o motivo - poupar. Sorri-se com a nuvem de consulados honorários. Mas não se entende a falta de sensibilidade política - extinguir Hamilton, Nova Iorque e Windhoek...
Em matéria de "dois pesos e duas medidas" há propostas que deviam ser explicadas, ver-se-á que respostas poderão ser dadas.
Mas há uma pergunta incontornável: que critérios presidem à criação de escritórios longe do posto-mãe, se, para estes casos, a Convenção de Viena prevê poderem ser criados vice-consulados e/ou agências consulares ?
Parece-nos que, com os erros cometidos, António Braga ganhou uma série de guerras, das quais dificilmente resultarão vencedores. Vejamos: o PSD pode até sentir-se em posição cómoda para criticar porque, tendo fechado 5 serviços, também é verdade que ainda criou 3 - em Manchester, na Córsega e em Xangai. Contudo, é difícil de sustentar, como fazem os opositores ao projecto - dos partidos ao conselho das comunidades - uma recusa em bloco de todo o plano de reestruturação. E será que o próprio Sindicato dos Trabalhadores Consulares ganhará alguma coisa em apresentar críticas mais diferenciadas, mostrando compreensão para alguns encerramentos, em função da sua avaliação dos prejuízos relativos?
É bem provável que os recuos de António Braga resultem da força política ou oposição dos interesses locais - legítimos e compreensíveis, mas pontuais - e não da maior ou menor razoabilidade das extinções preconizadas. Repare-se no empenho dos Açores relativamente a New Bedford em comparação com o (quase) silêncio sobre as Bermudas.
Ora da manutenção, no essencial, do projecto apresentado, resultará que:
- Portugal perde porque fica mais desguarnecido, sobretudo em Espanha.
- muitos emigrantes perdem - e podem perder-se para Portugal - porque o seu consulado deixa de estar perto e passa para longe.
- os opositores ao projecto em bloco perdem credibilidade, por muito que possam ficar contentes consigo próprios.
- a carreira diplomática perde uma série de bons lugares onde podia reinar tranquilamente.
- o STCDE perde porque o seu esforço de razoabilidade foi ignorado.
- a presidência da União Europeia abrirá negativamente com os rescaldos das lutas que ainda aí vêm.
- António Braga perde porque vai recuar sem critérios defensáveis e sofrer as consequências do aumento do descontentamento no barril de pólvora parisiense, o que poderá prejudicar a sua carreira política.
Ganham apenas alguns interesses locais, provavelmente muito pouco significativos no cômputo geral.
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
13 fevereiro 2007
Dos Notadores. Consulados, quo vadis António Braga?
Do Notador Ptolomeu de Arriaga
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