15 maio 2007

Contas da República e com a República

José Cesário recorda-se certamente do tratamento que Notas Verbais destinaram à sua enormíssima calinada da nomeação do padre como cônsul honorário em London (Canadá) em instalações de sacristia. Não temos dois pesos e duas medidas para avaliar casos semelhantes em que a sacristia seja meramente substituída por bingo. É tão grave colocar coisa da República em lugar sagrado, como sujar o mais sagrado lugar da República como seja a sua representação, com coisa conspurcada de ilegalidade ou por hipótese de suspeição criminosa.

Claro que tanto London como agora o Cabo Rio Frio facilmente se transformam em pretextos para acertos de contas dentro dos partidos ou entre barões e baronesas de partidos, cada qual vingando honras feridas com bom pretexto e argumentos que, para além das aparências, apenas têm a validade dos normais acertos internos de contas partidárias. Não vamos nessa.

O que importa é sublinhar o ânimo leve com que se nomeiam representantes do estado (letra minúscula) e, por via disso, representantes da República (letra maiúscula). Nomeia-se sem indagar bem o perfil da personalidade, sem escrutinar as provas que dá ou possa dar de probidade e sem avaliar adequadamente a excelência de cidadania. É como se bastasse que alguém influente ou poder de decisão diga «é um tipo porreiro» para que o nome desse tipo seja impresso na folha oficial adornando-o com a honra da República. É grave que isto tenha acontecido no caso de London, continua a ser grave neste caso do Cabo do Rio Frio.

Além disso é chocante que um membro do governo volte a sugerir a propósito do Cabo Rio Frio (tal como outro justificou o de London) que a nomeação de um cônsul honorário dependerá apenas da oferta de instalações e do pagamento das despesas de funcionamento da representação da República... Mas então, António Braga, mesmo num estado com letra minúscula, a cavalo dado não se deve olhar ao dente?

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