Putin quer observadores da OSCE nas legislativas russas de Dezembro e um instituto euro-russo para a defesa dos direitos humanos.
Num passe de mágica, Putin entalou quem dele disse que mais não faria em Mafra que figura de corpo presente, que apenas cumpriria calendário, enfim, que o comunicado final da cimeira UE-Rússia seria cena de rotina.
Tal como em todas as magias que se pretendam perfeitas na cartola política, prescindiu de ser ele, de viva-voz, a anunciar a transformação do lenço em pomba. Deixou esse protagonismo para o seu homólogo do semestre, Sócrates. Por certo, não foi condescendência diplomática, foi calculado propósito de semear credibilidade nas chancelarias europeias onde Vladimir Putin disso precisa, agora como Presidente da Federação Russa, amanhã como primeiro-ministro, a crer-se no que fez correr.
Ora, a credibilidade política e diplomática começa pela avocação daquele velho princípio segundo o qual quem não deve não teme. Putin, ao convidar observadores da OSCE para seguirem as eleições legislativas russas marcadas para 2 de Dezembro, quis deixar sugerido que não teme, e ao propor a criação de um instituto para a defesa dos direitos humanos, também quis deixar insinuado que não deve.
Tomou, pois, uma iniciativa que a OSCE, por receios políticos, não ousou formular no seu quadro, e avançou com a proposta do instituto euro-russo (27+1) que leva à avaliação de que, afinal, para serve o quadro dos 47 do Conselho da Europa a que a Rússia pertence desde 1996 e que, dispondo já de institutos que escrutinam os direitos humanos, pese a existência, desde 1999, de um Comissário dos Direitos do Homem (Álvaro Gil-Robles/Espanha) não dispõe de um instituto promotor daqueles mesmos direitos. Naturalmente que o quadro convencional do Conselho da Europa estava fora de questão em Mafra e seria um desconforto esclarecer a questão.
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