Muita gente acha que o PM José Sócrates deveria ler isto, depois do MENE Luís Amado, claro está, e não necessáriamente ao mesmo tempo que o PR Cavaco Silva... É que, excepcionalmente, nem se encontrou ilustração para esta carta de Fernanda Leitão, nem iríamos pedi-la a António Braga.
CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão
MOEDEIROS FALSOS
Enrolo melancolicamente entre as mãos este título de André Gide tal como o escritor, também ensopado de tristeza, o teria concebido em pleno pântano social.
Venho falar-vos de novo, e até que a voz me dôa, dos moedeiros falsos da Língua Portuguesa. Porque é meu entendimento ser dever dos jornalistas, depois do uso da Verdade, dar voz a quem não a tem. Parece que o povo, a que pertenço, também assim entende, a avaliar pelos resultados de uma sondagem Gallup mundial em que os jornalistas aparecem entre os quatro primeiros grupos sociais mais fiáveis, enquanto os políticos se estatelam na valeta.
Outra vez venho chamar a vossa atenção para a vergonha que está a passar-se nos Estados Unidos da América, nos terrenos da Coordenação do Ensino do Português.
Depois de 2005, por estar vago o lugar da coordenação, o Governo Regional dos Açores apressou-se a sugerir nomes ao Governo da República. A Directora Regional das Comunidades deslocou-se várias vezes a Lisboa para, junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e Ministério da Educação (ME) tentar garantir a colocação de dois amigos seus, Dinis Borges e António Oliveira, num claro gesto de misturar o conhaque com o trabalho. Esse intento gorou-se, devido a reacções enérgicas de quem não aceita que o país esteja em saldo.
Quando o presidente Cavaco Silva visitou os Estados Unidos da América, numa evidente tentativa de evitar cenas pouco agradáveis ao chefe do estado por parte de grupos comunitários profundamente irritados, o secretário de estado das Comunidades, António Braga, anunciou que já havia Consultora Escolar para honrar o protocolo feito com o estado de Massachussetts. De facto, sem que ninguém se tivesse apercebido, por nada ter sido publicitado como é de regra em democracia, o Diário da República trazia a nomeação de uma coordenadora para a Califórnia e de uma consultora, Rosalina Carreiro, de Hudson, para Massachussetts.
Posteriormente, em reunião com os conselheiros das comunidades e por insistência dos mesmos, o secretário de estado viu-se obrigado a declinar o nome da nomeada para Massachussetts. De imediato um conselheiro, residente em Hudson, e que conhece muito bem Rosalina Carreiro, reagiu perguntando a António Braga como era possível nomear uma pessoa tão medíocre, sem curriculum, sem perfil académico, que ainda por cima tinha sido expulsa do sistema escolar local por falta de qualidade pedagógica e didáctica. António Braga, depois de afirmar que o nome lhe tinha sido sugerido pela cônsul geral de Portugal em Boston, Manuela Bairos, que considerava ser muito bom o curriculum da nomeada, expulsou da sala o conselheiro Claudinor Salomão que, como veremos adiante, apenas estava a dizer a verdade.
Rosalina Carreiro, embora nomeada e contando com tão bons apoios oficiais, nunca se apresentou ao trabalho nem sequer deu um passo nesse sentido. A comunicação social comunitária nunca aludiu ao assunto. Tudo continuava no segredo dos deuses.
Mais tarde, os conselheiros de Hudson, José Figueiredo e o já citado Claudinor Salomão, exigiram ao secretário de estado o curriculum de Rosalina Carreiro. António Braga mandou o curriculm. Analisado exaustivamente o mesmo, descobriu-se que Rosalina Carreiro tinha enviado documentos falsos. Os conselheiros das comunidades que estavam a par do caso avisaram o secretário de estado do que se estava a passar e quiseram saber de quem tinha ele recebido aquelas peças curriculares. Resposta de António Braga: do Governo Regional dos Açores.
De imediato os conselheiros de Hudson pediram explicações à Directora Regional das Comunidades que, sacudindo precipitadamente a água do capote, informou que os dados lhe tinham sido fornecidos por Emília Mendonça, uma coordenadora já reformada que ficou célebre pela sua ignorância, caciquismo e ambição de manter sempre peões seus no aparelho escolar americano. Primeiro foi Dinis Borges, depois Rosalina Carreiro, sempre com o carinhoso beneplácito do Governo Regional dos Açores.
É oportuno informar que o ensino de Português no estrangeiro é pelouro do Governo da República. Tudo passou a correr mal quando o actual Governo dos Açores decidiu invadir terreno alheio, de forma absolutamente ridícula e em que foram esbanjados dinheiros públicos na publicação de obras absolutamente incríveis, de tão más, em favor de amigalhaços e amigalhaças, em viagens ditas de estudo que mais não foram do que férias para os bajuladores de sempre. Prestou-se mesmo ao tremendo fiasco da escola portuguesa na Bermuda, onde os governantes regionais foram passear, sendo que dali a pouco mais de um ano os emigrantes açorianos, na sua maioria ilegais, foram deportados. Tem tentado sempre impor a sua vontade, em manobras de bastidores, mas nunca teve a honestidade de reconhecer que, nas escolas portuguesas, há um número diminuto de crianças açorianas. E era bom saber porquê.
Estalado o escândalo, apesar do comprometido silêncio em que os interessados tentam sepultá-lo, Rosalina Carreiro renunciou ao lugar, mas fica a certeza de que não renunciaria se não tivesse sido descoberta.
Cansado de tantos atropelos por parte do Governo Regional dos Açores, o Governo da República tomou as rédeas do que diz respeito à Coordenação do Ensino do Português nos Estados Unidos da América: abriu concurso público. Honra lhe seja feita. A medida só peca por tardia.
Mas estamos perante atropelos que, em alguns casos, tomam a configuração de crimes que a lei penal contempla. E estamos perante um cenário de moedeiros falsos da Língua Portuguesa que, tripudiando sobre os mais básicos valores da ética e da moral, tentam praticar um caciquismo que desonra o aparelho de estado e enlameia a democracia. Por isso tomo a liberdade de apelar ao Senhor Presidente da República para que ordene as providências necessárias, tendo em conta que o Governo da República teve a coragem e o bom senso de se desvincular da corrupção e falta de profissionalismo do Governo Regional dos Açores. Os emigrantes portugueses não merecem ser achincalhados desta maneira. E os contribuintes não têm de sustentar esta fauna.
Sem comentários:
Enviar um comentário