12 abril 2008

Novo portal do MNE. Já com mosquedo

    Velho professor de filosofia, talento holandês emigrado, para explicar a diferença entre os escolásticos conceitos de continente e de conteúdo, cumpria todos os anos um ritual pré-anunciado, mas que se tomava a sério. Chegado o dia da matéria, ele erguia o braço solene, e, vincando na cara umas caretas que assumia como pronomes de mestre, fazia tremelicar uma caixa de fósforos segura por dois dedos curvados em pinça. «Senhorres! O continente é isto», apregoava ele com toda a aula ansiando não tanto o desfecho mas a abertura do conceito. E, com precisão, naquele momento em que a gargalhada colectiva poderia borrar a dignidade da lição, ele antecipava-se com um segundo anúncio - «Senhorres! E o conteúdo é isto!», abrindo nesse instante a caixa de fósforos de onde saiam umas dezenas de moscas… E por um infidável minuto, apontava para as moscas a esvoaçar como alvos do dedo do mestre, repetindo - «Senhorres! O conteúdo é isto!». Então a aula ia percebendo que o conteúdo pode estar fora do continente. Pois é exactamente o que ocorre com o novo portal do MNE – sim, senhor, muito bonito de início, que caixa tão perfeita, que prometedor continente, mas esperar-se-ia que o conteúdo não fosse mosquedo! Mas, senhorres! O conteúdo é mesmo isto, moscas fazendo as Necessidades como suas.

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