- É o drama da política externa portuguesa – nunca assumir de forma clara e inequívoca a realpolitik quando a faz e onde a pratica, fazendo-a aliás sempre como que a medo ou como que excepção sigilosa do estado - tem que se adivinhar. E porque há muito mais estados a fazê-lo – e bastantes com espionagem da realpolitik dos outros – isso repercute-se nas próprias organizações internacionais, sobretudo a ONU, cuja matéria é feita de estados, e com isso perdendo capacidade de arbitragem e credibilidade de escrutínio. O problema não está tanto, meu caro José António Saraiva, na realpolitik mas na realpolitik sigilosa (sem limites e padrões, porque o sigilo é uma saia larga) que acaba por ser tão desvirtuadora nas relações entre estados como a intromissão de um estado nos assuntos internos do outro. E já que foi citada a Amnistia Internacional, não é demais recordar-se que esta foi fundada em 1961, pelo advogado inglês Peter Benenson, ao avaliar uma noticia publicada no Daily Telegraph, dando conta do caso de dois estudantes portugueses terem sido presos por gritarem, na praça pública “viva a liberdade”, nesse ano de Salazar. Este, que também tinha a sua realpolitik sigilosa, não levou muito tempo a acusar a nascente Amnistia de estar a intrometer-se num assunto interno…
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
24 maio 2008
ARGUMENTÁRIO SOL■ Nós-outros e vós-eles
REALPOLITIK A propósito do diálogo Portugal-Venezuela, melhor das falas Sócrates-Chávez, talvez melhor ainda do que Lisboa precisa de Caracas e Caracas de Lisboa, José António Saraiva dedica a sua POLÍTICA A SÉRIO a deslindar isso da realpolitik. E, sob o título Nós e outros, escreve: «Cabe às organizações internacionais – a ONU, a Amnistia Internacional, a Cruz Vermelha – a aos tribunais internacionais julgarem o comportamento interno e externo das nações e respectivos governos, e aplicarem sanções. Pretender que os nossos governos o façam é uma irrazoabilidade. Um quixotismo. Estragaria os negócios e não serviria de nada.»
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