Na verdade, se a Irlanda recusa o Tratado Merkel, no referendo do dia 12, a UE caminhará para uma nova crise institucional - não se duvida disso nem isso se deseja, agora que erros estão feitos. E sublinhamos erros porque, na construção europeia, à sábia política dos pequenos passos, preferiu-se a política dos pequenos expedientes. Agora, com a Irlanda, mais expedientes para evitar fracasso no dia 12 - a UE paralizou todas as medidas que possam desagradar ao eleitorado irlandês e adoptou outras particularmente destinadas a satisfazer empresários garantindo-lhes que o novo tratado não vai significar a harmonização do imposto de sociedades (12% na Irlanda sobre os benefícios fiscais, contra os 34,3% na França e 38,9% na Alemanha, o que torna Dublin atrativa para captar investimentos).- Mas Bruxelas foi mais além e fez a vontade ao lobby irlandês do gado, com o endurecimento das barreiras às exportações de carne pelo Barsil, directos competidores dos irlandeses, sossegando-os também com o anunciado impacto da redução das ajudas agrócolas (40% do orçamento comunitário) que beneficiam especialmente a Irlanda. Sabe-se por exemplo que a comissão deu instruções aos funcionários de Saúde para «não molestar os criadores de gado irlandeses», com uma volta de 360º no que anunciara quanto às restrições das exportações de carne do Brasil...
Tudo para que os irlandeses digam sim, com evidente convicção.
Depois da festiva cimeira UE-Brasil, levada a cabo pela presidência portuguesa, o que poderá Lisboa dizer a Brasília? Que é o seu advogado na UE? É uma situação complicada e que não exige ratificação parlamentar - mal com o Brasil, por amor à Europa dos expedientes, mal com a Europa por amor ao Brasil dos pequenos passos.
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