JEJUM QUEBRADO Não é que se sugira que a chancelaria portuguesa emita posições oficiais por dá cá aquela palha ou que o faça para mostrar serviço, mas há matérias em que o silêncio não pode ser compensado através de recados por via de agência noticiosa. Este é um critério certamente cómodo para as Necessidades, mas mau para agência que assim, tamb+em por comodidade, se converte em tala oficiosa a tender para oficial, numa manifestação de adolescência tardia da ANI.
Há anos que não há meio do MNE acertar nesta matéria. E já se conheceu de tudo – desde assessores de imprensa do ministro que, às quatro da manhã, sobre assunto grave, diziam para as rádios que «o ministro pensa sobre isso que…», estando o ministro a dormir, ou que «a posição oficial de Portugal sobre esse facto é a de que…», quando nenhum decisor ainda conhecia o facto, porquanto nem o despertador tocara nem a barba estava feita para efeitos de posições do estado.
Depois, foi outro tique – a de que Portugal «alinha nessa matéria com a posição comum da União Europeia», designadamente em matérias sobre as quais cedo se via que a União Europeia apenas tinha em comum o desacordo disfarçado em declarações inócuas, liofilizadas, filtradas ou a reboque.
Com o Gabinete de Imprensa do MNE entretido a fazer tricô diário em boletins inúteis; com o site oficial a registar partidas e chegadas como se aquilo fosse cartaz de agência de viagens a servir ego, mei, miki, me, me e a política externa fosse cruzeiro; com uma Casa que tanto teve porta-vozes de tal ordem que o ministro chegou a ser voz à porta do porta-voz, naturalmente que se foi perdendo a esperança em que as Necessidades recolocassem dignidade, dignidade de estado, nessa já peregrina figura diplomática da Posição Oficial, cuja omissão foi também tantas vezes justificada pela realpolitik que é uma saia larga em cujas bainhas se esconde a lassidão, a lassidão diplomática.
Até surpreende que o MNE, agora, ainda que sob a forma de «Declaração à Imprensa», quebre o jejum e diga o que tem a dizer sobre o resultado eleitoral na Sérvia, sem que esteja à espera da «posição comum», se sirva de voz à porta, ou agite aquele gabinete tradicionalmente um paraíso alinhavado entre dois postos.
Como se sabe, Portugal está carente de milagres para ter mais santos, mas parece que houve milagre na chancelaria.
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