10 julho 2008

NOTADORES ■ Questão pertinente, vejam

E não é que um truque para evitar Postos difíceis?
E Postos difíceis são os perigosos, os de "menor categoria"
e que darão menos cacau e mais incómodos.
Do Notador O Mocho.


    O TEXTO do próximo Estatuto Diplomático poderia (julgo que "deveria" seria a palavra mais adequada) incluir, entre outros aspectos, o facto de um diplomata, qualquer que seja a sua categoria, não poder, de futuro, fazer apenas Postos de categoria A e ser obrigado a alternar com outros, de categoria B, ou C.

    Dever-se-ia, igualmente, salvaguardar as tentativas de contornar essa obrigatoriedade, como sucede, por exemplo, com aqueles diplomatas que estando colocados em Postos A, para evitarem o sacrifício de uma passagem por um "hardship post", pedem para regressar a Lisboa e, a partir daí, quando voltam a recandidatar-se, fazem-no, de novo, para outro Posto de classe A...com a justificação de que já tinham anteriormente estado num Posto C, que era Lisboa (a Secretaria de Estado!). É um truque habitual, muito usado, que apenas serve para mascarar uma realidade, infelizmente muito comum nesta Casa: a de não se estar disposto a fazer Postos difíceis, a de se ter concorrido à carreira para navegar apenas em "águas límpidas, evitando as turvas".

    Lamentavelmente, muitos diplomatas têm um percurso recheado, singularmente, de Postos A, sem nunca terem provado num Posto difícil, onde poderiam ser apreciadas, afinal de contas, as suas, verdadeiras ou reais, capacidades de adaptação (e já agora, também, as suas valências), quer profissionais, quer pessoais. Seria do somatório destas suas experiências, em Postos diferentes, com exigências e responsabilidades diversas, que melhor se avaliaria o diplomata (e, futuro, embaixador). Há-os, também, que têm feito carreira circulando por Gabinetes, no que consideram ser equivalente a Postos C... por estarem colocados em Lisboa! Nada mais falso. Os Gabinetes são Postos A especiais, pois premeiam os eleitos com promoções de salto de canguru e, como se não bastasse, com a colocação, a seguir, uma vez cumprida a função, em Posto A.

    Portanto, dupla compensação. E há mesmo os que, por virtude dos conhecimentos (ou influências conseguidas) feitos durante esse período, no exercício daquelas actividades, conseguem evitar a colocação (por vezes in extremis) em Postos C. Ora, aquilo que está em causa é a "democraticidade" da carreira (uma certa justiça, digamos), o impedir situações de privilégio e que, sobretudo, se avalie um diplomata através de um conjunto de experiencias profissionais que foi obrigado a enfrentar. Só assim, também, se deveriam oferecer lugares de destaque nas chefias dos serviços internos aos diplomatas.

    Não me parece, porém, que essa preocupação esteja subjacente ao actual projecto de diploma do Estatuto. Seria tocar, ou atingir, interesses estabelecidos. Por outras palavras, talvez se mude alguma coisa, sem mudar nada em substância. Esperemos que assim não seja, mas o seguro morreu de velho. Vamos aguardar para ver!

    O Mocho

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