01 outubro 2008

Emigrantes. Passo atrás da Suíça

E CHEGA-NOS DA SUÍÇA por Manuel de Melo, a informação de que, sobre o polémico ensino especial que tanto afecta filhos dos emigrantes portugueses nesse país, a auditoria da PriceWaterhouseCoopers * (conhecida por PwC), arrasa por completo o sistema de ensino especial no cantão suíço de Genebra, preconizando uma reforma drástica de todo o sistema.

Segundo o relatório da PwC

  1. a indicação dos alunos susceptíveis de serem colocados no ensino especial não é acompanhada de uma avaliação médica ou psicológica
  2. as decisões são mal documentadas
  3. os dossiers não estão informatizados nem centralizados
  4. as previsões estatísticas são inexistentes
  5. o papel dos serviços envolvidos está mal definido
  6. o ensino especializado depende de duas direcções de serviços diferentes cujos interesses e objectivos raramente convergem
  7. os critérios de colocação dos alunos no ensino especial não são conhecidos de todo.

    Fica-se a saber também que o ministro da educação de Genebra, Charles Beer, já reagiu publicamente informando que o Departamento de Instrução Pública vai acolher todas as recomendações feitas pela PWC, garantindo que ainda este ano, todo o processo de entrada e saída do ensino especial será alterado. Segundo Charles Beer, todos os alunos - deficientes ou com dificuldades de escolarização - serão inscritos no ensino regular. A integração passa assim a ser a palavra de ordem e o envio sistemático de alunos para o ensino especializado será erradicado.

      Ora, um dos principais problemas dos portugueses na Suíça tem a ver com o excessivo número de crianças e jovens que frequentam as designadas “Classes Especiais” ou “Classes Especializadas”. Na sua larga maioria são crianças e jovens com capacidades normais que foram colocadas indevidamente nessas classes do ensino especial suíço, donde dificilmente conseguem sair para integrar o ensino regular ou para fazer uma formação profissional.

Comenta Manuel de Melo


Há longos anos que tenho vindo a denunciar a existência desta situação anómala, atentatória dos direitos das nossas crianças. Recordo que em Junho de 2001, eu e outros portugueses entregamos uma petição (apoiada por 1500 assinaturas) no parlamento de Genebra - tendo posteriormente sido ouvidos pela Comissão de Educação – solicitando que se pusesse fim às práticas abusivas do Departamento de Instrução Pública e se acabasse com o envio indiscriminado de alunos para o ensino especial.

A referida petição acabou por ser chumbada pelo parlamento, com base num relatório escabroso da Comissão de Educação, que branqueou por completo os “disfuncionamentos” dos serviços do ensino especializado.

Ironia do destino, o relator do referido relatório chamava-se Charles Beers, à época deputado e que agora desempenha as altas funções de ministro da educação do cantão de Genebra.

* A PwC resultou da fusão em 1998 entre as empresas Price Waterhouse e Coopers & Lybrand. A fusão de 1998 permitiu que a PricewaterhouseCoopers se tenha tornado na maior empresa de auditores independentes do mundo. Presente em 149 países, com cerca de 140 mil colaboradores.

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