27 outubro 2008

Palavras de Sócrates sobre os EUA. Não há ilações a tirar?

Faltou, obviamente, na ciclópica entrevista de Sócrates (para o DN/TSF) a pergunta sobre o processo negocial das Lages. Tal pergunta viria mesmo a propósito, no seguimento da apreciação do primeiro-ministro faz da agonizante administração Bush e das esperanças ou expectativas sobre a provável administração Obama.

Mas então porquê pressa em renegociar com Washington o Acordo das Lages, já em Novembro? Será que uma administração agonizante será mais frágil na mesa das negociações, ou que, por isto mesmo, será mais rígida, dura e inflexível, aliás como sempre foi, além disso contando com fidelidades não declaradas, na outra parte?

Curioso é que quem, hoje, num primeiro passo, formata questões destas nas Necessidades, por um daqueles acasos ou descasos da política cruzada com diplomacia, é precisamente o mesmo que, como assessor diplomático do então primeiro-ministro Durão Barroso, preparou a célebre cimeira das Lages, num cenário de óbvia reverência perante Bush, de cuja sombra os seus parceiros das Lages dificilmente se livrarão.

É previsível o argumento de que Bush se revelará agradecido para com os facilitadores portugueses e que, portanto, a renegociação das Lages beneficiaria desse salário afectivo. Mas é um argumento que apenas teria alguma aceitabilidade se a próxima administração norte-americana fosse mera sucedânea desta que agoniza e está ferida, ferida e atrapalhada. Ou ainda se o primeiro-ministro português fosse um alinhado com as ideias, o plano e a futurologia de Bush, pelo que seria de aproveitar os últimos cartuchos de uma administração amiga, agonizante e ferida - ora, não está, como sem equívocos Sócrates deixou claro na entrevista, e da qual o MNE deverá tirar ilações e que são as ilações que os portuguese atentos e preocupados com a «determinante América» tiraram.

Continuaremos

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