13 outubro 2009

Definição de timbre...

Nem interessa quem louva e quem é louvado. O que interessa são os termos usados no louvor - uma espécie de conde camarão do século XVIII excertado em duque carrapato banido de 1947 - e a mentalidade que tal enxertia denota. Nas Necessidades é vulgar mas há muito que é ridículo.

Hoje, na folha oficial, um exemplo que se transcreve com enxertias em destaque, mas omitindo os nomes de quem louva e é louvado, para melhor ficar realçada a mentalidade dos adjectivos:


      «... com vivo gosto presto público louvor às qualidades ímpares que, no plano pessoal e profissional, marcaram o desempenho do cargo que lhe foi confiado.

      Para além da competência, dedicação e sentido de responsabilidade incontornavelmente associados à função — e de que fulano sempre deu abundantes provas — quero deixar testemunho da sua singular capacidade de intuição e análise, propiciatória de soluções criativas de grande valia para a tomada de decisão política.

      A rapidez de reacção às solicitações, sem que resulte diminuído o sentido crítico e de equilíbrio, confere agilidade e especial densidade ao exercício das responsabilidades cometidas a fulano.

      Será, estou certa, um diplomata à medida dos seus exemplares talentos. Mas pecaria por incompletude o presente testemunho, se dele não constasse a total disponibilidade, alegria e trato humano invulgar que, a par de quanto precede, definem o timbre de fulano...
Bom pretexto para se ler Letras Oficiais

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