02 dezembro 2009

Camões

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Por longo período, a acção cultural externa portuguesa (com diplomacia cultural ou sem ela) secundarizava a música e derivados, o bailado e escorregadelas, as artes plásticas e também borradas, a fotografia e outras revelações, a escultura e plágios adjacentes, secundarizava tudo isso a favor da Literatura, sobretudo da Alta Literatura - alta para não se confundir com descrições de sonhos freudianos e de outras emoções fortes tão populares mas contra o povo. Nos tempos mais recentes, o Camões faz o contrário - parece envergonhado da Alta Literatura, descarregando a consciência nacional com uns apoios a traduções conforme os humores dos conselheiros culturais, umas viagens indeclináveis suplementadas por vezes in loco com desnecessários socorros do Cervantes e uma como que condescendência militante para esses pobres diabos que escrevem mas que vão dando para a Literatura nacional peças e obras imorredouras. Ora, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Numa Cultura, em qualuer Cultura sólida e com correnteza histórica, a Literatura, a alta e não a baixa, é a máquina da locomotiva. E uma Diplomacia Cultural que não cuide dessa máquina, para andar, só puxada a bois. Que é como está a ser puxada, o que não se dissimula mesmo que se coloque o carro à frente dos bois. Que é o que se coloca.

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