Também, nos anos 90, rebentou um escândalo na comunidade portuguesa de Toronto quando alguns homens apareceram a queixar-se de terem sido abusados em crianças por dois colaboradores da paróquia que frequentavam, sendo que os abusos teriam sido cometidos dentro da própria igreja perante a ultrajante indiferença do padre responsável que, somadas as contas, protegia os pedófilos. A polícia investigou, o caso andou pelos tribunais, o padre foi, em 24 horas, expulso da paróquia em que trabalhava e convidado a não mais celebrar actos religiosos em público.
CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão
PEDOFILIA E IGREJA
Ultimamente têm-se sucedido denúncias de pedofilia cometida por sacerdotes católicos na Alemanha, Áustria, Holanda, Estados Unidos, México e Brasil. Tudo leva a crer que a procissão vai ainda no adro e muitas outras denúncias aparecerão no rio imparável dos meios da comunicação social. Uma das denúncias apareceu sob a forma de banda desenhada e contava a experiência do seu próprio autor, Philipe Girard, filho de pais divorciados que foi entregue aos cuidados de um colégio interno francês. Tinha 12 anos e foi assediado por um dos professores, justamente o mais influente e o que organizava um passeio anual com estudantes, mas resistiu e teve a sorte de ter uma mãe a quem podia abrir a sua alma. Mudou de colégio e, anos mais tarde, quando rebentou o escândalo, foi testemunha contra esse padre, que acabou por ser preso. A banda desenhada demonstra como era tecida a rede da manipulação dos jovens. A advogada que defendeu algumas das vítimas, declarou publicamente: “Se a Igreja Católica não aprende agora a lição, nunca mais aprenderá”.

Foi um caso que fracturou para sempre a comunidade portuguesa, na medida em que ficou claro quem era cúmplice por venalidade, por interesses e negócios com o padre, ao mesmo tempo que marcava o maior afastamento dos jovens portugueses.
A Igreja Católica, fundada por homens e mulheres que viram e ouviram Jesus Cristo, que com ele comeram o pão quotidiano e sofreram as amarguras do Calvário, homens e mulheres que tomaram sobre si a cruz de manter viva a lição do Mestre, tem, ao longo dos séculos, sofrido algumas dores provocadas pelo barro humano. Nada de mais natural. Esse barro humano tem, por vezes, impedido a Igreja de lidar saudavelmente com a natureza dos homens, levando a esconder o que não deve ser escondido. O abuso sexual, cometido por não importa quem, é sempre um crime. Cometido por um sacerdote é um crime que brada aos céus. Se à Igreja compete ajudar e perdoar, compreender e curar, não é menos certo que faz parte da cura a punição dos prevaricadores, elementar compensação de crianças inocentes que sofreram às suas mãos. Se a César o que é de César, à Igreja o que é da Igreja, à Justiça o que é da Justiça.
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