Esperar-se-ia naturalmente que fosse o ministro do Fomento espanhol, José Blanco, a fazer esse anúncio. Primeiro, porque, na sequência da sua intervenção na comissão de Fomento do Congresso de Deputados em que descreveu os cortes drásticos em obras, deixou logo inquietos os líderes e representantes da Catalunha e da Extremadura, além dos da Galiza e da Cantábria. Segundo, porque tendo o ministro Blanco anunciado que apenas não seriam sacrificadas as obras consideradas prioritárias, e uma vez que omitiu referências a compromissos internacionais (com Portugal e com França), competia-lhe dizer se, afinal, as ligações do TGV ou AVE espanhol para Paris e para Lisboa eram ou não prioritárias - em Lisboa, havia a convicção de esse assunto já tinha sido tratado, mas afinal não (além de que naquele setembro eleitoral e ainda neste março já periclitante, a Espanha se revelara muito “preocupada” com as hesitações e a insegurança da decisão portuguesa, forçando o governo português a elevar a temperatura da polémica interna) . Terceiro, o ministro Blanco antes de ter partido para Buenos Aires rumo a Brasília (cimeira dos transportes UE/América Latina), fez bem em esclarecer o seu homólogo português quanto à manutenção das datas para o AVE/TGV mas não devia ter deixado este a falar sozinho como a Espanha já tivesse dito tudo, pois como se verificou, não disse e tanto assim que terá de ser firmado um “memorando de entendimento” para “pedir a Bruxelas” a tal classificação de prioridade... O ministro espanhol contornou esta questão perante os protestos da Catalunha e da Extremadura, pelo silêncio ou pela omissão, o que vem a dar na mesma. Com Lisboa a fazer mais um favor nesta diplomacia de baixíssima velocidade.
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