05 outubro 2010

Agapito } Inundação nas Necessidades!

Agapito } Ele! Um embaixador de craveira, como se fosse um bombeiro...
    - Meu caro! Ouça! Acredite que é verdade! Mas que inundação, esta do 5 de outubro, na cozinha velha das Necessidades! Assisti a tudo. Está a ouvir-me? É que há uns apitos... serão interferências? Ouça! Tinham-me dito que uns colegas meus, embaixadores monárquicos confessos, marcaram uma reunião para a cozinha velha. E lá estavam eles os sete, à volta da mesa de pedra, com mais uns ministros plenipoptenciáros, bastantes conselheiros, uma mão cheia de secretários e até adidos, estes a medo, coitados! Meti-me no meio deles e qual debate, qual tema, qual desígnio, qual carapuça! Nada disso! Ouça! Houve apenas cantoria! Ao sinal daquele que bem conheço e que passou a vida acreditado em capitais com coroa, ouça!, a fazer diplomacia do salamaleque com reis, a trocar selos com princesas e petróleo com condes, pois ao sinal dele, começaram a cantar o Hino da Carta, aquele hino monárquico que foi cantado de 1834 até 1911, está a ouvirme? E como cantaram! Comovidos até às lágrimas, lágrimas a valer! Grossas lágrimas cada vez mais grossas. Um rio de lágrimas inacreditável, como se cada um tivesse uma torneira na cara a jorrar, a jorrar! Meu caro! As lágrimas chegaram até um palmo de altura no chão! Ouça! Eu não conhecia o hino mas, como você sabe, a minha memória ainda está em forma. E decorei. Quer ouvir? Ouça! Não desligue que vou cantar exatamente como ouvi, mas não ponha o itálico que o itálico não se ouve:
    Ó Pátria, Ó Rei, Ó Povo,
    Ama a tua Religião
    Observa e guarda sempre
    Divinal Constituição


      E depois todos em coro:
      Viva, viva, viva ó Rei
      Viva a Santa Religião
      Vivam Lusos valorosos
      A feliz Constituição
      A feliz Constituição

    Ó com quanto desafogo
    Na comum agitação
    Dá vigor às almas todas
    Divinal Constituição

    Venturosos nós seremos
    Em perfeita união
    Tendo sempre em vista todos
    Divinal Constituição

    A verdade não se ofusca
    O Rei não se engana, não,
    Proclamemos Portugueses
    Divinal Constituição
    Meu caro! E foi assim que  aquilo terminou e cada um discretamente foi à vida. Desculpe ter cantado a quadra final a chorar, mas é mesmo comovente... Está a ouvir-me? Nunca me comovi tanto na minha longa carreira. Está? Está lá? Não ouço nada. O que é isto? Bolas que já estraguei o telefone com as lágrimas...

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